EM QUARENTA ANOS DE HISTÓRIA
São quarenta dias e quarenta noites de chuva. O dilúvio. Quarenta dias e noites Moisés permanece no monte de Deus. Elias e Jesus jejuam quarenta dias e noites. Quarenta anos o povo peregrina no deserto. Quarenta dias e noites é o tempo na quaresma. Depois vem a Páscoa. Quarenta anos, duas gerações.
Exatamente isso. Lembro bem. À noite, entramos no ônibus, em Porto Alegre, RS. Depois de muitas horas, chegamos em Brasília. Dali fomos para Goiânia. Na rodoviária desta cidade, Valdomiro, Valdir e eu embarcamos, à noite. O motorista disse: ao amanhecer, alcançaremos Barra do Garças. Ônibus lotado. Em silêncio saímos da rodoviária. Quietinhos e acomodados em nossos bancos de ônibus. Lá fora, tudo está escuro.
Passamos por mais alguns vilarejos. O cansaço de dias e noites de viagem está nos dominando. Em meio à escuridão da viagem, dois violeiros vão para o fundo do ônibus. Fazem um show e animam toda turma de viajantes. A música sertaneja possibilita que o último trecho de nossa viagem fosse bem divertido.
No amanhecer, atravessamos a ponte e chegamos à Barra do Garças. Fomos acolhidos na casa da família do pastor Hildor Reinke. A finalidade foi trabalhar como ministro na IECLB, o que faço até hoje. Era o dia 16 de dezembro de 1976. Faz quarenta anos. Vim com uma mala pequena e uma maior. Vim para ficar pouco tempo. Mas os desafios de trabalhar na comunidade e na escola comunitária em Canarana, Garapu, Água Boa, Chapadão do Sul, Sinop, Tangará da serra e Cuiabá me fixaram aqui.
Há quarenta anos, as regiões do Mato Grosso por onde andei eram cobertas de florestas. Nas áreas da maioria das atuais cidades se ouvia o cantar das aves, dos pássaros, o rastro dos animais terrestres e o pular dos peixes livres nos rios límpidos.
Vieram os humanos, rasgaram as florestas com máquinas potentes, construíram estradas, barracos, casas e palácios. Depenaram a terra, mataram os animais, sujaram as águas, envenenaram o ambiente física, teológica e psicologicamente.
Por outro lado, tem muitas histórias de vida e dignidade. Vidas foram reconstruidas. Pessoas encontraram aqui a felicidade de viver como filhos e filhas de Deus. Muitas pessoas me acolheram em suas casas ou em seus barracos. Com muita gratidão celebro quarenta anos de Mato Grosso, com fé, esperança, vida e amor. Mas isso são assuntos que conto depois.
Deus, por sua vez, foi muito generoso. Em quarenta anos, tenho muitas histórias de vida e morte de todas as regiões do estado para contar, incluindo o Sul do Pará, Oeste de Goiás e Norte de Mato Grosso do Sul. Mato Grosso é a terra de minha vida.
Teobaldo Witter, pastor e professor, Cuiabá, MT