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Proclamar Libertação – Volume 18
Prédica: João 1.29-34 (35-41)
Leituras: Isaías 49.1-6 e 1 Coríntios 1.1-9
Autor: Antonio Luiz João
Data Litúrgica: 2º Domingo após Epifania
Tema: Epifania

 

1. Introdução

Nesta pequena introdução, pretendemos chamar o capítulo l do Evangelho de João de: o capítulo dos testemunhos.

A bibliografia a respeito do Evangelho de João é vasta, contendo sugestões de um esboço geral do livro. Recomendamos a leitura de Observações introdutórias referentes ao Evangelho de João, de Gottfried Brakemeier, Proclamar Libertação VIII, p. 7.

No chamado prólogo, podemos conhecer o tema do Evangelho e os objetivos do autor. Sabemos que esse falará do verbo que se fez carne e habitou… (1.14).

O prólogo já está bem carregado de testemunho: Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João. Este veio como testemunha (1.6-7). Falar que o verbo se fez carne é testificar fatos importantíssimos.

Numa olhada panorâmica, percebemos que o testemunho de João toma boa parte do capítulo. Porém, a palavra dos outros personagens do capítulo 1 não é menos importante. O objetivo dos testemunhos era levar pessoas a crerem (1.7). Era necessário João desviar toda a atenção que estava sobre si: Eu não sou o Cristo (1.20); Não sou digno de desatar-lhe as sandálias (1.27); Eis o cordeiro de Deus (1.29 e 36).

O que está em evidência não é apenas a pessoa de Jesus Cristo; são, antes de tudo, as ansiedades, aspirações, esperanças, sofrimentos, etc. do povo. As testemunhas vivem no meio do povo. São povo; partilham dos mesmos sentimentos e aspirações. João deixa claro que com Jesus se manifestou a graça (1.16-17). Não é mais a lei que oprime e escraviza. É a graça que liberta, tira do sufoco. André esclarece que o Messias foi achado (1.41). É o Ungido, esperado e desejado pelo povo. Esse não precisa mais buscar o Messias, que já está no meio dele. Felipe afirma que o prometido nos escritos antigos foi achado. O povo não precisa mais ler os profetas e Moisés como uma simples utopia. Para Natanael, o Mestre, o Filho de Deus, o Rei, fazia-se presente.

Quando lemos este texto, percebemos a sua importância para nós. Partilhamos igualmente as aspirações e fé. As nossas leituras bíblicas são carregadas de esperança, do desejo de achar o Ungido em nosso meio. O povo é oprimido por todos os tipos de leis e religiões; ele anseia encontrar o Cristo que traz graça sobre graça, verdade e libertação. É necessário que a comunidade testemunhe ao povo o Cristo libertador, que já está vivendo entre nós. Afinal, é tempo de Epifania!

 

2. O texto

Observemos as repetições: no dia seguinte (w. 29,35 e 43). Há os que procuram identificar a perícope através dessas repetições; outros fazem disso uma sucessão de dias, identificando uma semana de intensa atividade, com estreita ligação do começo do capítulo 2.

A perícope pode ser identificada de outra forma. No testemunho de João, certos fatos se repetem. Concluímos ser um único texto o de 1.15-34. Apenas uma pergunta fica no ar: Os mesmos interrogadores dos w. 19-28 estão juntos nos w. 29-34?

A dinâmica do texto é clara: os fatos se sucedem, sempre com palavras ligando fatos e ideias. Vejamos: repetição dos w. 15 e 30: Contudo tem a primazia, porque já existia antes de mim. A questão do batismo é muito forte: …então porque batizas… (v. 25); Eu batizo com água (w. 26,31); Aquele que me enviou a batizar com água (v. 33). Isto nos dá condições de entendermos que o texto de 29-34 é uma unidade com 15-28.

A leitura dos w. 29-34 destaca dois grandes títulos dados a Cristo: Cordeiro e Filho de Deus. Esses títulos trazem à nossa memória muitas coisas sobre ele. Todos os testemunhos passam por estes grandes títulos. No Proclamar Libertação VIII, p. 99, o pastor Carlos A. Dreher descreve, de forma detalhada, os dois títulos dados a Cristo.

Através da figura do cordeiro, somos levados a entender quatro ideias básicas: 1 — cordeiro pascoal (Êx 12.11-13); 2 — ritual do templo, cordeiro que era sacrificado para libertar o povo do pecado; 3 — o cordeiro nos profetas (Is 53; Jr 11.19), que vem para redimir o povo mediante sofrimento e sacrifício; 4 — símbolo de conquistador, imagem de vitória, majestade e poder.

Podemos resumir tudo isso a quatro palavras bem sugestivas, para a comunidade pensar em tempos de Epifania: amor, sacrifício, sofrimento e triunfo.

A imagem do cordeiro tem um complemento que nos ajuda a entender a sua função: que tira o pecado do mundo. O mundo pode ser entendido de três maneiras: os homens, o sistema, a natureza. Todos estão impregnados pelo pecado, que se manifesta na injustiça, corrupção, depredação e perda dos valores de vida.

O ser filho de Deus evoca a questão divina. Sabemos que filiação está ligada com procedência. Dizer ser filho de Deus é o mesmo que afirmar proceder de. Na verdade, esta é a grande discussão do Evangelho.

 

3. A prédica

Estamos no segundo domingo após a Epifania. Cristo já está entre nós. O testemunho da Igreja agora passa pelos efeitos de Jesus, que já nasceu. Por isso o texto de João 1.29-34 é muito rico e sugestivo para o momento.

O texto pode ser explorado a partir dos dois títulos dados a Jesus: Cordeiro e Filho de Deus. Lembrar à comunidade fatos da vida de Jesus que demonstram sua preocupação com o ser humano, com as injustiças e com o sofrimento.

Queremos sugerir outra forma de explorar o texto.

3.1. Capacidade de conhecer os sinais de Deus

No testemunho de João, percebemos isso bem claramente. João diz que não o conhecia (v. 31). Passou a conhecê-lo no momento do batismo (w. 32-33). João discerniu tudo pelos sinais: pomba e Batismo.

O que falta para a comunidade é a consciência clara de que Deus se manifesta e está no mundo, no meio de seu povo. Os sinais estão aí. Não os vemos, porque a onda mundana do pessimismo, do poder diabólico, tomou conta da Igreja.

Um exercício com a comunidade é muito importante para essa consciência. Por exemplo: lembrar os gestos simples e sinceros de um irmão para com outros; atividades comunitárias alternativas para vencer a crise e as injustiças têm pipocado pelo Brasil; é necessário que o profeta viva bem informado, igual a João.

3.2. Disposição intensa para participar de um novo tempo

A comunidade é a grande manifestação de Cristo hoje. Ser Igreja é ser responsável para que Cristo viva através de nós. Quando falamos do novo, logicamente vêm à tona as seguintes palavras de Paulo: Quem está em Cristo é nova criatura Ser nova criatura não é simplesmente algo estático, interior. É, antes, um processo dinâmico.

A comunidade deve viver como nova criatura; participar, portanto, do novo. Não é opção, é uma responsabilidade.

É importante refletir sobre essa questão no segundo domingo após a Epifania. O Cristo veio, inaugurou um novo tempo. Quando a comunidade continua viveu do nos mesmos passos de Cristo, é o próprio Cristo que está ativo. Quando a comunidade toma atitudes semelhantes à dos judeus, ela torna-se obsoleta e sem objetivos de Cristo. Quando a comunidade vive para manter as tradições, os velhos costumes, torna-se cega para os sinais do novo tempo. Quando a comunidade toma atitudes diferentes das de Cristo, deixa de refletir o Cristo, logo não vive e deixa de transmitir o novo.

As palavras de João nos convidam a participarmos do novo tempo. A Epifania nos convida a refletirmos a nossa coragem para isso. Ser Igreja, povo de Deus, é viver o Cristo que lutou sempre pelo novo.

3.3. O Espírito Santo nos batiza para o novo tempo

A questão do batismo é muito forte em todo o texto. Há os batismos de João e de Jesus. Ambos têm o mesmo objetivo: levar as pessoas a viverem ativas. O batismo é muito importante em todo o Novo Testamento; é a grande herança que chegou até nós.

A preocupação com o batismo não pode criar divergências e problemas. Quando isto acontece, perdemos de vista o objetivo do batismo. Esse é para ser vivido, e não para ser discutido.

Em João, as pessoas eram balizadas para um novo tempo (Mt 3.1-10). Jesus nos batiza para um novo tempo (At. 1.5). Ser batizado, batizar, concordar com o batismo é afirmar, simbolicamente, o desejo de trabalhar no novo tempo.

Em outras palavras, participamos da mesma missão de Cristo. A Igreja e a Epifania de Jesus e para isto ela é batizada pelo próprio Cristo, que outorga a ela o mesmo Espírito Santo.

O Espírito Santo é derramado na comunidade, por Cristo, para que ela seja iluminada e instruída nos mesmos passos de Cristo. O Espírito Santo não existe para deixar a Igreja frenética, mas para fazer e tornar realidade a Epifania de Cristo hoje. O domingo da Epifania é um excelente momento para refletir sobre a missão da Igreja. Faz-se necessário, portanto, lembrar que, quando a comunidade se preocupa em revelar o Cristo, a trilhar os caminhos da Cruz, a denunciar as barbaridades, o Espírito Santo renova-a com o seu batismo.

 

4. Subsídios litúrgicos

1. Confissão de pecados: Senhor, nosso Deus! Agradecemos a ti por mandares Cristo para viver em nosso meio e nos ensinar sobre o novo tempo. Pedimos perdão porque não temos demonstrado às pessoas o novo que Cristo nos mostrou. Perdoa-nos e nos anima com o batismo do Espírito Santo para isto. Têm piedade de nós, Senhor!

2. Oração de coleta: Deus e Pai! Estamos reunidos em teu nome, e isto é muito bom. Ajuda, através do batismo com o Espírito Santo, para podermos entender a tua mensagem e sermos desafiados por ela. Que sejamos tocados por ti, a fim de transmitirmos o novo que vem do convívio com o Cristo.

3. Oração final: Agradecemos-te, ó Deus, por Cristo que vive através de nós. Por Cristo que nos batiza com o seu Espírito Santo, para sermos instrumentos na vivência diária, a fim de que outros venham a conhecer o novo tempo por meio de Cristo, que habita em nós.

 

5. Bibliografia

Proclamar Libertação — Auxílios Homiléticos Vol. VIII, Editora Sinodal, 1982;
BRUCE, F. F. João — introdução e comentário. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova e Associação Religiosa Editora Mundo Cristão, 1987;
GUILLET, Jacques. Jesus Cristo no Evangelho de João — Cadernos Bíblicos. Edições Paulinas, São Paulo, 1985;
JAUBERT, A. Leitura de Evangelho segundo João — Cadernos Bíblicos. Edições Paulinas, São Paulo, 1985.

 

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Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).

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