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Proclamar Libertação – Volume 24
Prédica: Mateus 16.13-20
Leituras: Êxodo 6.2-8 e Romanos 11.33-36
Autor: Günter Wolff
Data Litúrgica: 14º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 29/08/1999

 

1. O contexto

Este texto está após o relato acerca do Fermento dos fariseus e dos saduceus, e, assim, o reconhecimento de Pedro nos remete a uma nova proposta que não é a dos fariseus e saduceus que apoiam o Templo, sua teologia e sua interpretação da Lei.

O texto subsequente fala do anúncio da paixão e ressurreição de Jesus, que é a consequência do fermento dos fariseus e saduceus. O projeto deles, que é o do Templo em conluio com o poder romano, leva à morte e é abertamente contra o projeto do Reino. Após essa revelação de sua paixão Mateus coloca as condições para seguir a Jesus Cristo (16.24-28): Toma a tua cruz e segue-me, e isto requer a decisão de perder a vida por causa da proposta de Cristo. Salvar a sua vida é a primeira reação, e para isso se necessita apenas seguir o projeto apoiado pelos fariseus e saduceus: o Templo em conluio com o poder romano. Este é o projeto da morte para a morte. O projeto de Jesus Cristo pode levar à morte por causa da luta contra o projeto do Templo, mas essa morte levará o seguidor à vida eterna. Jesus Cristo é o novo fermento que transforma a morte em vida.

Após a confissão de Pedro vem a predição da morte de Jesus. Isso significa que quem confessa a Jesus como o Cristo está sujeito à morte e tem que carregar a cruz que o mundo lhe impõe. Confissão de fé e martírio estão ligados. Em Atos 1.8 se diz: sereis meus mártires — minhas testemunhas — até aos confins da terra. Confessar a Jesus como sendo o Cristo trará a luta contra o sistema que produz e vive da morte que martirizará o cristão.

 

2. Os assuntos

O texto fala do reino dos céus e da Igreja. A questão é descobrir quando e onde os dois são um e onde e quando estão separados. Na verdade os dois deveriam sempre ser uma coisa só, mas não o são sempre. Jesus Cristo anunciou o Reino e veio a Igreja. Isto pode ser uma crítica ou apenas uma constatação. Jesus não fundou a Igreja, mas a sua pregação a criou. Quem criou a Igreja foram os apóstolos após Pentecostes em oposição e alternativa frente às assembleias das cidades gregas que excluíam os estrangeiros, mulheres, pobres e sem-terra.

A Igreja está subordinada ao Reino e tem que trabalhar para desaparecer a fim de dar lugar ao Reino em sua forma plena. A Igreja é apenas um meio que anuncia um fim: o reino de Deus. O objetivo da Igreja não é a sua própria sobrevivência; ela tem, isto sim, a tarefa de anunciar que o Reino já chegou e de mostrar onde ele está e onde não está. A Igreja sempre corre o risco de virar o túmulo de Deus, isto quando deixa de ser missionária e esquece o sacerdócio geral de todos os crentes. A Igreja está sempre aí para os outros e não somente para si mesma.

O importante não é Pedro, e sim a sua tarefa ministerial, sempre lembrando Mt 18.18. A função da Igreja é abrir o reino dos céus para o maior número possível de pessoas e sempre deixar claro que o reino do mundo (capitalismo neoliberal globalizado) é inimigo do reino dos céus. Não só isso, mas este também fecha o Reino para a maioria das pessoas, como os fariseus o faziam no tempo de Jesus.

A grande pergunta que o próprio Jesus levanta é: quem é Jesus? E qual o papel de seus discípulos? Quem é discípulo? É discípulo quem reconhece Jesus como sendo o Cristo.
A grande tarefa é sermos a base sobre o qual Jesus construirá a sua Igreja e/ou o seu reino. A seus discípulos Jesus deu as chaves do Reino, o que significa um grande poder para ser instrumento de salvação ou de perdição.

Palavras-chaves: Quem é Jesus? O Cristo.

Quem confessa Jesus como o Cristo recebe as chaves e o ministério da reconciliação.

A Igreja é edificada sobre os que confessam a Jesus Cristo e contra estes a potência da morte não terá poder. A potência da morte não poderá acabar com o projeto da vida. Isto está dado.

O importante aqui é o reconhecimento de Jesus ser o Cristo. Por isso não precisamos mais esperar por nada e ninguém, pois o Cristo já veio. Nem precisamos esperar por milagres e pôr nossas esperanças no sistema capitalista neoliberal globalizado e segui-lo, ele não nos salvará.

 

3. O texto

Vv. 13-14: A pergunta é: quem é Jesus? Jesus faz uma análise da situação com seus discípulos e os faz dizer o que o povo pensa. O povo pensa e fala muita coisa. Repete muito o que se diz por aí, reconhece em Jesus alguém especial, mas não consegue reconhecê-lo como sendo o Cristo. Não basta dizer que Jesus é alguém importante, importa reconhecer nele o Filho de Deus, o Messias. O povo está à procura e aos discípulos cabe dizer quem é quem e qual é o caminho.

V. 13: Jesus usa o termo Filho do homem para indicar que ele é o Messias. Em Dn 7.13-14 se fala do Filho do homem ao qual foram dados o domínio e a glória e o reino, e aqui Jesus diz que ele é este do qual fala o AT.

V. 14: Todas as outras pessoas não entenderam e não reconheceram Jesus como o Messias, conforme o relato dos discípulos, somente Pedro (que é o porta-voz dos demais) entendeu que Jesus estava indicando que ele é o Messias. Aí está a importância dessa confissão; quem entende que Jesus é o Messias será um instrumento de Jesus na construção de seu reino. Hoje as pessoas diriam, como ainda dizem, que Jesus é um Mestre que mostra o caminho, e apenas isto ele é para a Nova Era da vida. Só que Jesus não apenas mostra o caminho; ele é o caminho.

V. 15: Jesus quer uma definição de nossa parte; quer saber o que nós pensamos, quer uma postura nossa frente a ele. Dependendo da nossa definição sobre Jesus, assim será a nossa atitude perante ele e sua proposta.

Pedro fala em Deus vivo para deixar claro que os outros deuses são falsos e estão mortos e sem poder para dar vida.

V. 16: Quem reconhece Jesus como sendo o Cristo recebe as chaves do reino dos céus. Reconhecer significa também assumir sua proposta. A afirmação de Pedro é na verdade um credo: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Uma confissão destas muda a vida de qualquer um radicalmente, levando em conta toda a situação da época.

Pedro responde pelos discípulos dizendo que Jesus é o Cristo. No Evangelho de João 11.24-27 quem faz essa confissão é uma mulher chamada Marta. Lembro isto porque alguns comentaristas acentuam muito a confissão de Pedro que legitima a estrutura eclesiástica baseada nos homens. No meu entender o que importa aqui não é Pedro, mas o fato da sua confissão. Quem confessa a Jesus como o Cristo tem o poder das chaves e sobre este Jesus construirá a sua Igreja. O que é óbvio, pois a Igreja não será construída a partir de quem não confessa a Jesus como o Cristo.

V. 17: Feliz aquele que consegue reconhecer em Jesus o Filho do Deus vivo, pois este terá um grande poder de transformação que recebeu do próprio Jesus. Só mesmo Deus pode conceder a uma pessoa essa confissão, pois ela advém da fé. E a f é nos é dada pelo próprio Deus, pela graça. E depois que Deus tomou posse de nos c que o sou poder agirá através de nós contra a morte e a lavor da vida. Essa revelação vem do Espírito Santo que nos dá a lê. l’iça a pergunta: aí aparece a salvação por graça e fé?

V. 18: A Igreja de Jesus Cristo será edificada sobre aqueles que reconhecem Jesus como sendo o Cristo e têm a prática deste, que é incluir no amor e na comunhão plena os excluídos. Isto certamente é uma confissão da comunidade primitiva, pois é a única vez que a palavra Igreja sai da boca de Jesus. Pois a Igreja, como termo e organização, surge após a ressurreição de Cristo em confronto com o mundo grego, que exclui os não proprietários, escravos, estrangeiros, mulheres e crianças, os não cidadãos (Ef 2.19). Sobre este reconhecimento a Igreja está construída. Nós fazemos parte de um poder que é superior ao poder da morte. A Igreja é coparticipante do poder que venceu a morte. Por isso ela não precisa se aliar aos comparsas da morte e ao sistema que vive da morte. A proposta da Igreja é incluir na comunhão os excluídos pelo sistema dominante.

A importância está colocada sobre os que reconhecem Jesus como sendo o Cristo. O peso está agora no compromisso da Igreja, nós. Apesar de pecadora, ela carrega a esperança da resistência contra o poder do mundo, do mal, do inferno.

V. 19: Os/as discípulos/as de Jesus (a comunidade) têm o poder (e a obrigação) de encaminhar as pessoas para a salvação e têm o ministério da reconciliação. O ministério é da comunidade: discípulos/as de Jesus, aqueles/as que confessam a Jesus como sendo o Cristo.

A toda pessoa que confessa Jesus como sendo o Cristo foram dadas as chaves do Reino para abri-lo a todas as pessoas, e isto está em confronto com os fariseus e escribas que fechavam o Reino às pessoas, conforme Mt 23.13. Portanto, a proposta de Jesus e, em consequência, dos cristãos é totalmente diferente da dos fariseus e escribas. Assim, os cristãos têm o poder de abrir as portas do Reino e também de fechá-las às pessoas, o que é uma grande responsabilidade e um grande compromisso. Isto, na verdade, conduz à missão da comunidade cristã. Comunidade que não faz missão está fechando as portas do Reino às pessoas. Comunidade que não anuncia a proposta de Jesus está fechando as portas do Reino às pessoas. Comunidade que não luta contra o projeto capitalista neoliberal está fechando as portas do Reino a milhares de pessoas. As palavras que Jesus diz em Mt 5.20: Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus servem para a comunidade cristã que baseia a sua justiça em grande parte a partir do sistema capitalista. Pois escutamos constantemente os cristãos falarem mal dos excluídos pelo sistema, como os sem-terra, negros, índios, ele., cm vez de incluí-los em sua comunhão. A estes a comunidade está fechando as portas do Reino porque baseia a sua justiça a partir da ideologia da classe dominante e não a partir do evangelho de Jesus Cristo. A isto acrescentamos as palavras de Mt 7.21: Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. A estes nós cristãos nos juntamos volta e meia, pois achamos que basta lermos a nossa religiosidade descomprometida e pagar a nossa contribuição, que tudo está bem. Mas lazer a vontade de Deus indo ao encontro dos excluídos do sistema, dos quais a própria comunidade está cheia, não faz parte dessa religiosidade. Assim estamos mais desligando as pessoas dos céus do que ligando. Esse compromisso inerente à fé não estamos levando muito a sério: de ligar e desligar as pessoas do céu.

V. 20: Antes da sua ressurreição Jesus Cristo não queria que se revelasse o segredo messiânico. A sua ressurreição revelaria isto automaticamente. Hoje não precisamos mais manter segredo. Hoje podemos e devemos revelar alto e bom som que Jesus é o Cristo e quais as consequências que isso traz para as pessoas e para todo o mundo: a libertação de todos os esquemas que estão baseados na morte e que produzem a morte.

 

4. Proposta de sequência na pregação

1) A pergunta: quem é Jesus?

2) Quem confessa Jesus como o Cristo recebe as chaves e o ministério da reconciliação.

3) Pedro representa apenas aqueles que confessam a Jesus como o Cristo.

4) A pergunta: reino dos céus ou Igreja?

5) A Igreja e o Reino são edificados sobre os que confessam a Jesus Cristo. Isto leva à missão.

 

Bibliografia

ANDERSON, Ana Flora, GORGULHO, Frei Gilberto S. A justiça dos pobres São Paulo: Paulinas, 1981;
GRUNDMANN, Walter. Das Evangelium nach Malthäus. Berlin: Evangelische Verlagsanstalt, 1968. (Theologischer Handkommentar zum Neuen Testament, 1);
HÄRTLING, Peter. Text Spuren. Stuttgart: Radius, 1990. vol. 1.

 

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Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).

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