Proclamar Libertação – Volume 27
Prédica: Lucas 2.1-20
Leituras: Isaías 9.2-7 e Tito 2.11-14
Autor: Werner Brunken
Data Litúrgica: Natal
Data da Pregação: 25/12/2001
O texto de Lc 2.1-20 já apareceu em seis volumes de Proclamar Libertação. Há nesses auxílios, uma grande variedade de informações, as quais não vou repetir neste trabalho. Desejo trilhar meu próprio caminho, refletindo a partir da realidade que vivo no meu ministério na comunidade e na sociedade.
O texto de Lucas transmite o que aconteceu no momento histórico do imperador Augusto, a saber, o nascimento de Jesus. Este nascimento estava envolto por muita agitação (recenseamento, pastores no campo, anjos cantando). Já o texto de Isaías descreve o nascimento do menino que será o portador da paz e da justiça para o mundo. E o texto de Tito descreve a graça salvadora para toda a humanidade através de Jesus. Ele se deu por todos, purificando para si um povo zeloso de boas obras.
Foi escrito por Lucas, “o médico amado” (Cl 4.14). Lucas vivia em Antioquia, a mil quilômetros dos lugares nos quais Jesus pregava. Não o conheceu pessoalmente. Dedicou seu evangelho e o livro Atos dos Apóstolos a Teófilo. Lucas escreveu para gentios que se tornaram cristãos e expressa, nos seus escritos, a imensa bondade de Jesus para com as pessoas (veja Lc 15 e 19). O evangelho foi escrito entre os anos 70 e 80 após Cristo.
Após as palavras de introdução (1.1-4), segue a pré-história, que engloba o anúncio, o nascimento e o preparo de Jesus para a sua missão (1.5-3.38). Analogamente, relata o anúncio, o nascimento e a missão de João Batista. O Evangelho segundo Mateus é bem mais resumido nessa descrição. Aliás, só Lucas descreve em pormenores toda a pré-história de Jesus e de João.
Vv. 1-7 – O nascimento de Jesus aconteceu durante o reinado do imperador romano Augusto (30 a.C. até 14 d.C.). O censo foi proclamado para todo o império. Ele aconteceu quando Quirino era governador da Síria (entre os anos 6 a 8 a.C.).
Para esse censo, cada pessoa deveria dirigir-se ao “seu lugar”, no qual estava enraizada sua família. José pertencia ao ramo de Davi. Por isso, apresentou-se em Belém. Maria acompanhou José como “sua esposa”. José deu todo o apoio a Maria para que tudo transcorresse bem na hora do parto. Ele viu em Jesus seu próprio filho. Assim, José cumpriu o decreto do imperador e também a promessa de Deus.
O contexto do nascimento de Jesus mostra que José e Maria estavam em Belém como hóspedes. José certamente tinha parentes em Belém. Mas como as casas na sua maioria consistiam de um só cômodo, no qual inclusive os animais ficavam, é compreensível que “não havia lugar”. Daí o nascimento ter acontecido “fora do lugar aconchegante”. O nascimento pode ter acontecido numa gruta, na qual ficavam os animais.
O relato do nascimento é descrito com toda a simplicidade, mostrando a pobreza do lugar e como o menino era igual aos outros (precisava de fraldas e do cuidado dos pais).
Vv. 8-14 – Aqui a cena muda. Relata que havia pessoas além do círculo familiar que souberam do nascimento de Jesus. Deus pessoalmente deu a conhecer o que havia acontecido através de um mensageiro. Era normal pastores guardarem seus rebanhos durante a noite. Deus não quis ficar com a nova do nascimento de Jesus para si. O povo deveria participar. E entre o povo procurou os pastores de ovelhas, que viviam à margem do poder e da sociedade.
A mensagem estava acompanhada da “glória do Senhor”. Foi a interferência de Deus no que havia acontecido. Ele agiu e se fez presente diante dos pastores no campo. No centro da mensagem encontramos a palavra “Evangelho” (boa notícia), que o evangelista usou várias vezes (1.19; 3.18; 4.18,43 e também no livro Atos dos Apóstolos). Esta palavra era usada na proclamação de um rei ou imperador. Assim, a palavra “Evangelho” soava familiar aos ouvidos das pessoas fora do mundo judaico. Em Jesus manifestou-se o “Rei de Israel”. Essa alegria pela boa nova deveria ser para todo o povo.
Jesus será o salvador. Soter em grego, era usado para os deuses e poderosos. Eles eram “os salvadores”. No texto, Jesus é apresentado como “o Salvador”, “o Ungido”, “o Senhor”. Entretanto, este “Rei” e “Salvador” não está nos palácios reais, mas na manjedoura, envolto em faixas, indefeso.
A revelação do Messias Menino alcançou seu auge na abertura do céu com a milícia celestial que louva Deus. Esse louvor manifestou-se também no seu agir na história. Por agir para o bem do mundo, ele é o Senhor da glória. Seus sinais não são luta, poder e egoísmo, mas bondade, serviço e edificação do seu Reino. Essas palavras estão relacionadas com a paz.
“Aos homens a quem ele quer bem” e não “aos homens de boa vontade”, conforme tradução da Bíblia Latina Vulgata. Deus quer bem a todas as pessoas e não só às de boa vontade.
Vv.15-20 – Nesta nova cena, é relatado como os pastores se movimentaram para ver o menino em Belém. Sua atenção na visita não foi tanto para com Maria e José, mas para com o menino, motivo da mensagem dos anjos. Por isso, tornaram-se mensageiros dessa boa notícia, louvando e glorificando a Deus por tudo o que experimentaram. Essa boa notícia contagiou as pessoas.
Maria, por sua vez, meditava tudo no seu coração. Ela viu cumprir-se no menino tudo o que havia sido dito sobre ele através dos profetas e do mensageiro que lhe apareceu.
Passam por mim como um filme as agitações das semanas antes do Natal: fim do ano letivo para os filhos, formaturas, vestibular, encerramento dos grupos nos clubes, no círculo familiar e de amigos, na comunidade cristã. Limpeza de casa, apartamento, compras, presentes… Tudo isso e muito mais além do trabalho rotineiro.
No texto de Lucas, também vemos muita agitação a partir do decreto do imperador Augusto. Todo o povo no seu império deveria ser recenseado. Milhares de pessoas foram engajadas para esse recenseamento. Milhões de pessoas se deslocaram para seus lugares de origem. Pessoas que precisavam deixar o seu trabalho por alguns dias, pessoas doentes, mulheres grávidas. Enfim, havia muitos empecilhos a serem vencidos.
E nessa agitação toda, Maria estava em estado adiantado de gravidez. Em Belém, tiveram que hospedar-se em um lugar simples, sem conforto algum. Ali nasceu a criança prometida por Deus. Diante dos olhos do mundo, nada de especial até que Deus resolveu agir, enviando seus mensageiros aos pastores do campo. A eles foi proclamado que em Belém havia nascido um menino e estava numa manjedoura. Ele seria o Salvador da humanidade. Deveriam conhecer este menino. Foi o que fizeram. Foi grande a sua admiração ao constatar o coro dos anjos, entoando glória a Deus e paz na terra às pessoas a quem ele quer bem. Refletiram! Como a nós, pessoas insignificantes, Deus se manifestou tão maravilhosamente? Ele nos traz a salvação, a paz e a justiça que não podemos receber no mundo governado por pessoas. Que maravilha! Saíram e foram relatar com alegria o que tinham visto e ouvido. Encontraram paz no meio de toda a agitação em torno do censo.
E hoje? Podemos ver no anúncio do nascimento de Jesus algo mais do que recordação? Podemos ver no meio de toda a agitação do nascimento de Jesus a motivação para viver a paz que vem de Deus e render glória a ele? Será que ele ainda é o Salvador, o que traz perdão e reconciliação à humanidade? Jesus é ainda o Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade e Príncipe da Paz, conforme o texto de Isaías? Jesus é a graça salvadora para toda a humanidade, conforme descreve Tito? Reconhecemos em Jesus aquele que nos purifica para ser o povo zeloso a seu serviço?
Há motivação suficiente a partir do nascimento de Jesus para não nos deixar sufocar pelas agitações da vida, nem mesmo nas semanas antes do Natal.
Vamos a partir de Jesus, motivados pela presença do Reino de Deus, preparar-nos para viver os últimos dias deste ano e o próximo ano a serviço da paz, da justiça e do amor provindos de Deus.
– Introito (órgão, piano, teclado, coral, conjunto).
– Damos as boas-vindas a todos neste dia de Natal. É dia de parar das agitações das últimas semanas e buscar a presença de Deus. Assim, estamos reunidos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
– Convido a comunidade para cantar: “Ó vinde, fiéis, vinde alegres, triunfantes” (Hinos do Povo de Deus 17 – HPD).
– Ao celebrarmos o nascimento de Jesus, vamos dar ouvidos à mensagem transmitida pelo evangelista João (1.14): a Palavra tornou-se um ser humano e morou entre nós. Vimos a sua glória.
– Diante dessa manifestação do amor de Deus para conosco, reconhecemos nossos pecados, fraquezas, imperfeições, nossa agitação constante e falta de paz. Pedimos-te, Senhor, que nos perdoes e renoves em nós o teu imenso amor através de Jesus Cristo. Por isso, humildemente cantamos: “Tem, Senhor, piedade” (3x).
– Renovado por teu grande amor, desejamos entoar o canto dos anjos diante dos pastores:
– Comunidade: Glória, glória, glória a Deus nas alturas. Glória, glória, paz entre nós, paz entre nós.
– Oração: Eterno Deus! Obrigado por estares conosco nesta celebração de Natal. Obrigado por este novo dia de vida que estás concedendo a cada um de nós. Que a tua palavra possa ser ouvida com atenção e sem agitação, pois precisamos dela para viver bem. Por Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém.
– Ouçamos palavras da Sagrada Escritura conforme as encontramos no livro do profeta Isaías 9.2-7. Após a leitura, convidar a comunidade para cantar: “Glorificado seja teu nome…” (HPD 253).
– Ouçamos a leitura da carta a Tito 2.11-14. Após a leitura, convidar para cantar: “Glorificado seja teu nome…”
– Leitura do Evangelho segundo Lucas 2.1-20. Seguem reflexão e mensagem baseadas na reflexão sobre o texto e a meditação.
– Comunidade canta: “Eu venho a vós dos altos céus…” (HPD 15).
– Como resposta à mensagem recebida, convido para expressarmos em voz alta a nossa fé cristã com as palavras do Credo Apostólico.
– Comunidade: “Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso…”
– Como sinal de gratidão pela vinda de Deus até nós, vamos recolher as ofertas deste culto, que hoje destinamos … (dizer a finalidade com explanação). Durante o recolhimento das ofertas cantemos: “Seu nome é maravilhoso…” (HPD 235).
– Oração de agradecimento pelas ofertas e intercessão pela entidade à qual são destinadas.
– Avisos comunitários. Dar as boas-vindas aos visitantes. Pedir para se levantarem, dizerem seu nome e de onde vêm. Em algumas comunidades, distribuem-se lembranças aos visitantes.
– Oração: Eterno Deus! Rendemos-te graças que vieste morar neste mundo tão agitado. Mas é neste mundo que tu estás presente com o teu grande amor e tua paz para toda a humanidade. Concede que possamos parar das agitações e escutar a ti e uns aos outros para viver novos momentos de amor e de paz. (Incluir agradecimentos, pedidos e intercessões dos presentes.) Tudo te pedimos e agradecemos por Jesus, que veio para nos salvar.
Em seu nome oramos:
– Comunidade: “Pai nosso, que estás no céu…”
– Comunidade canta: “Jubiloso, venturoso, tempo santo de Natal…” (HPD 29)
– Bênção: Que Deus esteja em nossa mente e em nossos pensamentos. Que Deus esteja em nossos olhos e em nosso olhar. Que Deus esteja em nossos sentimentos. Que Deus esteja em nosso fim e em nosso partir. Vamos em paz e no amor de Deus. Amém.
– Poslúdio: Sinos, instrumentos, coral.
RENGSDORF, Karl Heinrich. Das Evangelium nach Lukas. Göttingen : Vandenhoeck & Ruprecht, 1958. (Das Neue Testament Deutsch, 3);
TERRA, João Evangelista. O caminho de Lucas. São Paulo : Loyola, 1989. (Revista de Cultura Bíblica).
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).