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No dia 24 de junho celebramos o nascimento de uma figura marcante da Bíblia: João Batista. João foi profeta com extraordinária força de atração. Muitas pessoas iam até ele para ouvi-lo e receberem o batismo. Conheça a história deste grande pregador que abriu caminho para a atividade de Jesus.
 

Um nascimento de destaque…

No Evangelho de Lucas, de acordo com a Bíblia Nova Almeida Atualizada (NAA), encontramos títulos de parágrafos muito semelhantes a respeito de João e Jesus:

 
Os títulos, bem como a divisão em capítulos e versículos, não são obra do evangelista Lucas. Independentemente disso, chama a atenção o destaque que o nascimento de João Batista tem neste evangelho. Depois de Jesus, não há outra pessoa que receba tamanha distinção. Isto é um indicativo da importância que João Batista teve.

É significativo que o mesmo anjo Gabriel revela o nascimento de João e de Jesus. E há um outro detalhe: os nomes de João e Jesus não são escolhas das famílias. O anjo anuncia como eles se chamarão.
 

… em uma família sacerdotal

João era filho de Isabel e Zacarias. Isabel era da descendência de Arão, o primeiro sumo sacerdote do povo de Israel. Zacarias, igualmente, era de linhagem sacerdotal e fazia parte de um dos turnos sacerdotais.

Na época de Davi, a descendência de Arão foi organizada em 24 turnos sacerdotais (1 Crônicas 24). Cada um destes grupos ficou responsável pelo serviço do templo em Jerusalém durante toda uma semana. Desta forma, pessoas que moravam longe de Jerusalém conseguiam exercer o sacerdócio.

Considerando o calendário de 52 semanas, cada grupo fazia o serviço litúrgico duas vezes por ano. Isabel e Zacarias moravam em uma região montanhosa da terra de Judá. Em uma das semanas que lhe cabia o serviço sacerdotal, Zacarias estava em Jerusalém. E foi ali, no templo, que Gabriel lhe trouxe a notícia que Isabel ficaria grávida.
 

O nome dele é João

A história de Isabel se parece com a de Sara, no Antigo Testamento (Gênesis 18). Ambas estavam em idade avançada e sofriam porque não tinham filhos.

Assim como Sara duvidou que poderia ter um filho, Zacarias não acreditou que sua esposa daria à luz. A incredulidade lhe custou a fala. Você ficará mudo e não poderá falar até o dia em que estas coisas vierem a acontecer, porque você não acreditou nas minhas palavras, disse o anjo (Lucas 1.20).

Quando o menino completou oito dias e chegou o momento da circuncisão, os parentes queriam dar-lhe o mesmo nome do pai. Mas Isabel disse: — De modo nenhum! Ele será chamado João. Então Zacarias pediu uma tabuinha e escreveu: — O nome dele é João (Lucas 1.60-63). A partir deste momento, o sacerdote voltou a falar.
 

Dois profetas da mesma família

Em seguida, cheio do Espírito Santo, Zacarias proferiu um cântico, anunciando a função que João teria: E você, menino, será chamado profeta do Altíssimo (Lucas 1.76).

Jesus não somente confirmou esta vocação, mas enfatizou a alta consideração por João: Um profeta? Sim, eu lhes digo, e muito mais do que um profeta (Lucas 7.26).

Vale lembrar que o próprio Jesus se considerou um profeta e foi chamado de profeta:

Além de serem profetas, João e Jesus tinham um outro vínculo: eram parentes (Lucas 1.36). Embora se costume dizer que os dois eram primos, não se sabe exatamente o grau de parentesco que tinham.

 

Cada profeta com o seu atributo

Assim como “Cristo” não é o sobrenome de Jesus, “Batista” também não é o nome de família de João.

Enquanto o termo Cristo significa “Messias”, a palavra Batista quer dizer “aquele que batiza”. São, portanto, atributos que se incorporaram ao nome dos dois profetas. A rigor, seria mais exato dizer: Jesus, o Cristo e João, o Batista.

Se a palavra “profeta” aponta para uma semelhança, os atributos fazem uma distinção. João realizava o batismo de arrependimento no rio Jordão. Por isto o chamavam de Batista. Apesar de ter uma grande reputação, ele se entendia apenas como o precursor do Messias:

— Depois de mim vem aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de, curvando-me, desamarrar as correias das suas sandálias. Eu batizei vocês com água; ele, porém, os batizará com o Espírito Santo (Marcos 1.7)

Jesus, por seu lado, era o Messias para quem João preparava o caminho (Marcos 1.1-3).
 

Uma vida de desapego no deserto

Sobre a infância de João Batista, Lucas escreve: O menino crescia e se fortalecia em espírito. E viveu nos desertos até o dia em que havia de manifestar-se a Israel (Lucas 1.80). Deserto não é necessariamente uma região sem vegetação, mas pode ser um território pouco habitado.

Nosso profeta provavelmente viveu no deserto da Pereia. Uma antiga estrada de comércio saía de Jerusalém rumo ao Oriente. Passando por Jericó, esta via cruzava o Rio Jordão. É possível que ali tenha sido o local onde João realizava batismos. A localização em uma estrada de comércio pode ter contribuído para que as pessoas chegassem a ele.

O modo de vida de João chamou atenção e mereceu menção especial. O evangelho Marcos relata que roupa dele era feita de pelos de camelo, que usava um cinto de couro e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre (Marcos 1.4).

Este estilo de vida pode ser expressão de pobreza ou um ato simbólico para falar sobre o Reino de Deus. Afinal, o que é mais importante? São as roupas, o alimento, a moradia, ou a disposição para aceitar o domínio de Deus?
 

Arrependam-se, porque está próximo Reino dos Céus

Os hábitos exóticos certamente não foram o motivo pelo qual as pessoas procuravam João. Elas vinham a ele para escutá-lo e serem batizadas. O próprio Jesus se deixou batizar (Marcos 1.11). É até possível que Jesus, por algum tempo, tenha feito parte do grupo de discípulos do Batista.

João anunciava a necessidade de arrependimento diante da iminente vinda do Reino de Deus. O batismo era a expressão de arrependimento, porém o arrependimento não se limitava a este rito de purificação.

Quem se arrependia e recebia o batismo precisava produzir frutos . Como exemplos desses frutos, ele citou a necessidade de partilhar, praticar a honestidade, não ser prepotente, não fazer falsas denúncias (Lucas 3.7-14).
 

Um dramático fim

A pregação de João Batista parecia mais “dura” do que a de Jesus. Ele acentuava o juízo e a aniquilação das pessoas não dispostas ao arrependimento. O machado já está posto à raiz das árvores (Lucas 3.9), dizia. Por trás deste discurso severo havia uma intenção piedosa: que as pessoas se arrependessem e se livrassem da condenação iminente.

Jesus também pregou o arrependimento e usou palavras duras, mas, em geral, falava do Reino de Deus em termos mais alegres, como uma grande festa, como algo que fortalece a esperança.

Entre semelhanças e diferenças, os dois parentes tiveram um fim trágico. João foi decapitado e Jesus, crucificado. Com palavras brandas ou duras, a mensagem profética pode ser incômoda. E sempre há quem prefere silenciar a profecia, em vez de ouvir e se converter a ela.

 

Texto: Pastor Dr. Emilio Voigt – Coordenação Portal Luterano e Aplicativo IECLB
Imagem de João Batista: pintura de Caravaggio (1571–1610), disponível em Wikimedia Commons

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