Quem acompanhou a COP 30 talvez tenha ouvido expressões, tais como “Diálogo de Talanoa” e “Tapiri”. Uma delegação de jovens da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB participou do Diálogo de Talanoa e do Tapiri em Belém. Saiba o que significam estes termos e como foi a experiência nestes espaços de reflexão.
O que é o Diálogo de Talanoa?
A jovem Carine Josielle Wendland, da Comunidade de Ferraz, em Vera Cruz/RS, explica que o Diálogo de Talanoa nasceu a partir dos povos indígenas Fiji, para resolver problemas em suas comunidades. A COP 23 adotou esse termo do Diálogo de Talanoa. Da mesma forma, muitas igrejas e religiões assumiram esta metodologia de diálogo.
Assim, a cada COP, antes de começar a conferência do clima, pessoas de comunidades de fé e organizações inter-religiosas dialogam sobre algumas perguntas: onde estamos, para onde queremos ir, como chegamos lá. Essas perguntas são a base para definir como as comunidades de fé se relacionam com a questão climática, e como elas estão naquele momento.
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Carine é Vice-secretária do CONAJE (Conselho Nacional da Juventude Evangélica), representante no Sínodo Centro-Campanha-Sul no Conselho da Igreja e membra do Fórum de Justiça Climática LAC.
Entre as instituições internacionais que participaram do Diálogo de Talanoa, a jovem destacou a Federação Luterana Mundial, o Conselho Mundial de Igrejas, a ACT Alliance, Franciscan International, Quaker United National Office, Dominicans for Justice and Peace, Caritas International. Esta pequena lista é um indicativo da grande representatividade e diversidade nos debates. |
Um aspecto importante do Diálogo de Talanoa é o compartilhamento de experiências. Neste diálogo, diz Carine, a gente se divide em grupos. Tem uma fala inicial e então são compartilhadas diferentes experiências. Essas experiências de outros lugares e de outras comunidades de fé são muito enriquecedoras e contribuem para o crescimento conjunto.
Qual é a importância do Diálogo de Talanoa para a IECLB?
Quem também participou do evento foi o pastor Lucas Gabriel Ulrich, da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Porto Velho/RO, no Sínodo da Amazônia. Em primeiro lugar, ele considera importante reconhecer que estamos juntos nesse encontro, que não é só ecumênico, mas inter-religioso. São pessoas, instituições e religiões preocupadas com a questão de justiça ambiental.
| Para nós, diz o pastor Lucas, foi muito importante dialogar sobre a crise climática e perceber que ela também é uma crise espiritual e de valores.
Nós, que tanto falamos de amor, devemos pensar a que esse amor nos leva. E esse amor nos leva a ir muitas vezes às ruas, a lutar para que pessoas e toda a natureza tenham acesso a esse amor, do qual nós tanto falamos, complementa. |
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Dialogar sobre justiça climática e justiça socioambiental significa olhar para frente, caminhar para frente. Neste caminho, a união e a comunhão são fundamentais para despertar a consciência. Esta consciência precisa gerar ação de busca por justiça socioambiental, lá onde estivermos.
Talvez, no meio disso, a gente se desesperança ou pode desanimar, reconhece. Ainda assim, temos o papel de esperançar para as outras pessoas, ou, pelo menos, de não acabar ou diminuir a esperança de alguém.
Por fim, diz o pastor, nós concluímos que a nossa tarefa é buscar criar consciência em lideranças, nas mais diversas religiões, para que a causa da justiça socioambiental seja realidade onde a gente estiver.
O que foi o Tapiri interreligioso?
Joana Campos Rockenback, da comunidade de Xanxerê/SC, no Sínodo Uruguai, explica o que é o Tapiri interreligioso. Tapiri é uma palavra indígena que significa uma palhoça de acolhimento. E é isso mesmo que ele representa: um espaço de encontro.
No Tapiri, várias lideranças religiosas, povos indígenas, quilombolas, jovens e movimentos sociais se reuniram para discutir clima, focado em justiças e direitos.
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As conversas do Tapiri trataram de vários temas, tais como território, demarcação, justiça climática, racismo religioso e ambiental e protagonismo jovem, feminino e LGBTQIA+.
Na opinião de Joana, o Tapiri mostra que enfrentar a crise climática também é uma questão ética, espiritual, religiosa e de defesa dos povos da Amazônia. |
Diversidade religiosa e étnica
Para Lucílio de Matos Araújo Barbalho, da comunidade de Belém do Pará, no Sínodo Espírito Santo a Belém, o Tapiri foi muito interessante por sua ligação com o MNE, que é o Movimento Negro e Evangélico. “Eu tenho uma identificação muito grande por também ser uma pessoa preta e ter uma ascendência indígena. Sou um morador do norte do Brasil e essa identificação se deu muito nos discursos dos membros do MNE no Tapiri”.
Além disso, o Tapiri foi importante para mostrar que no Norte, uma região com muita presença evangélica, há muitas pessoas evangélicas que são pretas, que são pessoas com ascendência indígena. E a presença neste espaço é importante para que essas pessoas sejam representadas.
| O último dia do Tapiri foi especialmente simbólico por reunir todas aquelas pessoas, de diversas religiões, na escuta do documento importantíssimo que foi definido no evento.
O Tapiri mostra como a espiritualidade precisa ser interligada com o cuidado com a criação. A criação existe em todas as religiões e todas as religiões só existem porque a criação existe. Então, nós devemos, em conjunto e através da espiritualidade, cuidar da criação. |
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“Foi muito bonito, naquele último culto, ver todas aquelas pessoas unidas por um único propósito. Eu espero muito que aquilo se estenda para todo mundo e que todas as pessoas de religiões diferentes consigam conviver em paz”. Da mesma forma, Lucílio espera que as pessoas consigam compartilhar a responsabilidade com a criação, porque este é um cuidado conjunto.
Crédito das fotos: FLM/Albin Hillert
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