Paróquia São Lucas completa cinquenta anos de história em Joinville
O mês de julho marca as bodas de ouro da comunidade, que continua prestando serviços e criando laços com as famílias dos membros por gerações
O ano de 2025 é um marco na história da Paróquia São Lucas. Em julho, se comemoram as bodas de ouro da igreja, que completa oficialmente 50 anos servindo à Deus como paróquia ao sul da cidade dos príncipes. Neste ano importante, resolvemos lembrar aos leitores como começou, se desenvolveu, e atualmente auxilia o trabalho em outras comunidades, a igreja da Rua Olaria, no bairro Floresta.
É necessário salientar de que é impossível citar todos os nomes envolvidos, mas enfatizamos a importância de todos que se envolveram na evolução desta importante comunidade durante estas cinco décadas.
Os membros da igreja Cristo Bom Pastor, que moravam mais ao sul de Joinville em diversos bairros, se reuniam em escolas, o que era permitido na época, e casas de voluntários próximas no que hoje é a igreja São Lucas bem antes de 1975, ano em que a comunidade se oficializou como paróquia.
Em documento histórico relatado pelo primeiro ministro da comunidade, o pastor Werner Zischler relata que foi chamado para realizar cultos e atividades de estudo bíblico em várias cidades da região e bairros da cidade através da Cristo Bom Pastor, mas que o objetivo em curto prazo era de construir a nova paróquia, para que a partir da São Lucas, outras comunidades pudessem existir.
“Chegamos a Joinville em 04 de abril de 1974, com minha esposa e meus filhos. […] A partir dali dei revezamente cultos a esta igreja, juntamente com o pastor Helmut Burger”, relata em documento o Pr. Werner. “Assumi no primeiro ano as atividades nas comunidades de Barra Velha, Barra do Sul, São Francisco do Sul e Estrada Santa Catarina, mas como nossa meta era formar e consolidar a nova paróquia São Lucas, estas comunidades foram distribuídas entre os colegas, ficando apenas a Estrada Santa Catarina Km 11 como única filial da São Lucas”.
Bem mais antigas que as reuniões dos luteranos próximas do bairro Floresta, foram as reuniões daqueles que moravam no extremo sul da cidade. Na Estrada Santa Catarina, então Katharinenstrasse, os cultos existiam desde o período inicial da colonização europeia na região, seguindo a tradição religiosa dos primeiros colonos. Para se ter uma ideia, os primeiros registros de reuniões em uma escola que também funcionava como igreja datam desde 1866, há quase cento e sessenta anos.
Dona Vani Schattschneider é uma das irmãs que participa da comunidade desde antes da Paróquia São Lucas existir. “Lembro de ouvir sobre relatos de pessoas sobre o início da comunidade”, comenta, citando o que os mais antigos falavam do que acontecia há mais de um século. “Antigamente, o pastor vinha de charrete do centro da cidade para dar cultos na região.”
Natural de Três Passos no Rio Grande do Sul, Dona Vani passou a morar em Joinville após se casar com Sr. Afonso Schattschneider, a quem dedicou mais de cinquenta anos de casado. “Meu marido era ali do Onze, o pai dele era, o avô dele também era, toda a família já fazia parte da comunidade já há bastante tempo. Ele inclusive foi confirmado naquela igreja.”
A construção de um trabalho que se iniciou em uma época difícil da colonização, mas com a assistência dos pastores Fritz Büehler e Hans Müller há mais de um século e meio, se confirmou anos mais tarde, em 1925, quando já no primeiro dia daquele ano, a Comunidade Estrada Santa Catarina Km11 passou a oficialmente existir. O primeiro pastor foi o Sr. Friedrich Horness, e anos mais tarde, nos anos 30, o primeiro templo dedicado à igreja foi erguido. “Eu lembro que o ponto se chamava ‘Comunidade Estrada Santa Catarina Km11’, mas depois de alguns anos, fizeram uma reunião e decidiram que o nome seria Martin Luther Km11.”
Hoje, os mais de 150 membros que vem de longe para o extremo sul da zona rural de Joinville se reúnem a cada dois domingos de manhã pelo menos para os cultos, fora o estudo bíblico nas residências e demais atividades que buscam o entendimento da palavra do Senhor. “Quando a semana começa, eu já busco saber se no próximo domingo tem culto para que eu possa ouvir a palavra, saber como estão os irmãos, e compartilhar as atividades da semana”, relata.
Logo no primeiro ano de existência da Paróquia São Lucas, registros históricos relatam que foi comprado um terreno que pertencia à família Kaesemodel, onde funcionava uma antiga olaria na rua de mesmo nome, às margens do Rio João Drefahl, braço do Rio Cachoeira. Seria o local perfeito para o início da construção da sede.
O primeiro culto oficial no local ocorreu no dia 12 de novembro de 1978, com direito a quatro batismos num mesmo dia. Segundo relatos do Sr. Walfrido Orlamünder, que participou da comunidade desde o final da primeira década: “a construção ainda não estava pronta, mas a partir dali, todas as atividades se desenrolaram em um salão pequeno”, relembra. Cinco anos mais tarde, um segundo salão, onde hoje os cultos são realizados, foi inaugurado no dia 23 de outubro de 1983, com um culto de confirmação.
“Os recursos foram adquiridos a partir de almoços e também festas para ajudar a construir os salões da comunidade. Havia também rifas e bingos, mas estes últimos deixaram de acontecer ao decorrer dos anos”, relata, ao relembrar sobre a importância da ajuda dos fieis no início da história da São Lucas.
O Sr. Nelson Pfützenreuter, que será citado aqui algumas vezes, foi eleito o primeiro presidente da paróquia. Desde o início, atividades como cultos infantis (em horários fora dos cultos de domingo), grupos de juventude, coral, estudos bíblicos, e o grupo de senhoras da Oase ocorriam em casas e escolas próximas da sede paroquial.
“O pastor Werner foi muito especial”, relembra o Sr. Walfrido. “Ele era muito aplicado para construir novos pontos de pregação já no começo. Ele também instruía alguns leigos para que pudessem dar cultos em alguns bairros. Sua esposa, Silvia, também era especial. Ela tocava acordeon e auxiliava o grupo da Oase.”
A Sra. Carmen Silvia Effintag trabalhou com o grupo de senhoras da Oase Rute desde 2005, há vinte anos. Ela continuou um trabalho que senhoras membras da Cristo Bom Pastor começaram anos antes da Paróquia São Lucas existir. “O grupo é mais antigo que a comunidade”, comenta. “Elas se reuniam antes mesmo da igreja ser construída.”
O trabalho das senhoras teve seu início em 1971 na casa das Sras. Hedwig Heiden, Erna Pella, Fanny Stroeh e Jutha Stahn. Cada uma com seu pequeno grupo independente. Mais de dez anos depois, em 1984, os grupos se fundiram e viraram oficialmente a Oase Rute. “Eu já conhecia a Oase, minha mãe participava e falava muito sobre”, comenta. “Eu trabalhava fora e não podia participar de nada da igreja, mas depois que me aposentei, me encontrei com uma amiga, ela me convidou para o grupo, e então nunca mais saí.”
O grupo ficou muitos anos ativo, com direito a subgrupos de artesanato e atividades para as participantes da terceira idade durante todos estes anos, inclusive com direito a visitas com santa ceia para membras com dificuldades de mobilidade. No entanto, com a pandemia, as atividades foram suspensas e infelizmente permanecem assim até hoje. A Oase Rute merece destaque por ter sido parte importante para a história e evolução da Paróquia São Lucas.
“A gente encarava a Oase como uma missão, com muito prazer e alegria”, comenta. “Acho que a convivência entre os membros melhora com grupos assim. Deixa as pessoas mais próximas, não é? Não fica restrito apenas a palavra bíblica, mas você acaba também compartilhando a sua vida, como ela flui, como pode ficar, sempre com a palavra de Deus junto.”
De acordo com a intenção dos líderes no começo da história da São Lucas, vários pontos de pregação surgiram pela região sul e viraram oficialmente comunidades. Alguns dos exemplos são as comunidades Apóstolo João, Apóstolo Paulo e Bom Samaritano, que hoje compõem a Paróquia Semeador.
O Sr. Irineu Brinkmann foi uma das pessoas importantes que participou tanto da história da igreja, quanto do processo de criação destas comunidades desde o início. “Em 13 de julho de 1989 eu vim morar em Joinville, foi providência de Deus. Logo, passamos a encontrar uma igreja luterana, e encontramos a São Lucas”, comenta, ao lembrar do primeiro contato com a comunidade. “O Pr. Dietmar Wimmersberger perguntou meu nome e endereço. Na mesma semana, ele, junto com o Sr. Nelson Pfützenreuter, trouxeram um convite para o grupo de homens, e eu aceitei. Começava ali uma história de amor com Deus e a igreja.”
Hoje, após quase quarenta anos ao serviço de Deus, o Sr. Irineu é parte importante da construção da Paróquia Semeador, que agora conta com mais um ponto de pregação em Araquari. “Eu passei logo a entender a palavra de Matheus 28 que diz ‘ide e fazei discípulos de todas as nações, e entendi que esse chamado não é só para os discípulos mas sim para todos aqueles que conhecem de fato Cristo como salvador”, reflete.
“Tornamos assim a visão missionária da São Lucas. O trabalho é ir onde o povo está necessitando do evangelho. Por isso temos esse projeto missionário em Araquari, onde as pessoas já ouviram falar de Jesus mas não entendem a palavra da salvação. Este é o trabalho que estou fazendo, e graças a Deus a visão missionária continua nas duas paróquias.”
Outro exemplo de ponto de pregação que evoluiu como comunidade, e que traz um papel importante na história recente e atual da Paróquia São Lucas, é a comunidade Apóstolo Tiago, às margens da rodovia BR-101 e da Estrada Parati. Segundo relatos, a ideia começou com membros mistos das comunidades existentes da paróquia se reunindo em casas e colégios da região desde o final dos anos 30 do século passado. Os primeiros cultos, que iniciaram a história da comunidade, foram em espaço cedido numa escola que ficava na Rua Porto Rico até então.
Os cultos da escola se transferiram para as residências dos Srs. Eduardo Stein e Carlos Pahly na Estrada Parati, onde foram realizados por cerca de 40 anos, até que um imóvel foi adquirido próximo na região, no topo de um morro. Na mesma época, no ano 2000, o local passou a ser chamado oficialmente de Ponto de Pregação Apóstolo Tiago, momento em que a comunidade passou a contar seus anos de existência.
A Sra. Ursula Schroeder e seu marido, o Sr. Marcos Ernesto Schroeder, fazem parte da comunidade desde aquele momento. “Eu e meu esposo ficamos mais ativos na comunidade por um convite feito pelo Sr. Nelson Pfützenreuter”, relembra. “Foi uma experiência maravilhosa. Temos grata satisfação em estar até hoje juntos com outros irmãos na fé participando ativamente na comunidade.”
O casal chegou a cumprir o papel de presidente tanto da comunidade em geral quanto de grupos específicos como os de estudo bíblico e terceira idade, e hoje fazem parte da liderança. Aliás, o momento de comunhão entre os irmãos foi tão forte e espontâneo em pouco tempo que não demorou muito para os membros se organizarem para construir um templo próprio. Alguns anos mais tarde, no dia 6 de abril de 2007, o primeiro culto foi realizado no local que hoje é oficialmente a Comunidade Apóstolo Tiago.
“Temos visto nossa comunidade aumentando seu espaço físico graças a ajuda de muitas pessoas”, relata, ao comentar sobre a expansão de um local para confraternizações aos fundos da igreja que foi inaugurado há alguns anos. “Temos a certeza de que Deus sempre foi o nosso guia e socorro bem presente em todas as situações.”
Dentro destes cinquenta anos, diversas atividades e prestações de serviço aos moradores foram feitos pela Paróquia São Lucas. Uma das atividades é a do setor de assistência social, que junto das paróquias Bom Pastor e Semeador, realiza entregas de cestas básicas, eventos de bazar e auxílio às famílias necessitadas, da qual faz parte Doris Stringari: “É um trabalho que sempre gostei muito de fazer”, comenta. “Além de ajudar as pessoas que precisam do nosso apoio, uma voluntária sempre se preocupa com a outra e ajuda quando necessário.”
Doris trabalha com o serviço de assistência social há mais de quarenta anos, quando ele ainda acontecia na sede do Centro Evangélico de Joinville, no centro. Desde 1998, a prestação de serviços acontece em todas as comunidades que compõem a CEJ. “Fazemos o cadastro de cada pessoa que nos procura, conversamos com ela, e depois visitamos suas casas para ver a real situação da família”, conta sobre como a abordagem inicial acontece. “Chegamos a ter no total 50 famílias cadastradas para ajudar.”
A concentração dos recursos fica na Paróquia São Lucas. Doris conta que antes de entregar cestas básicas ou outros materiais, é feito um pequeno momento de culto com um dos três pastores das paróquias que auxiliam o projeto. “Se eles não puderem, algum leigo ou mesmo voluntário aparece para levar a palavra para eles, é importante”, conta.
“Recebemos doações de alimentos em geral, produtos de higiene e limpeza e roupas diversas em bom estado para uso, mas normalmente ainda precisamos comprar produtos que quase não entram para doação, como café, leite, doce para pão, margarina, bolachas doces e salgadas. Então, qualquer doação é bem-vinda.”
Doris ainda comenta que não é preciso cumprir algum pré requisito para ajudar no serviço de assistência social. “Estamos precisando de voluntários novos, não precisa de nada além da disposição para trabalhar, o restante se aprende junto conosco. Para se ter uma ideia, várias voluntárias tem mais de 70 anos” brinca, ao comentar sobre a idade. “É só conversar comigo ou com a Sra. Leonilda. A amizade entre as voluntárias é algo muito importante. Me sinto realizada.”
Desde 2023, a Pra. Taciana Höring Camillo realiza seu pastorado na Paróquia São Lucas sucedendo o trabalho do Pastor Ernani Marino Petry, que se aposentou após vários anos auxiliando a comunidade e a igreja. Ela deixa uma mensagem para todos aqueles que fizeram parte desta história de cinco décadas, e também aos membros em geral do Sínodo Norte Catarinense.
“A Paróquia São Lucas nasceu e existe pelo agir do Espírito Santo. É motivo de louvor e gratidão a Deus perceber que Ele nos permite fazer parte de sua missão do anúncio do evangelho ao mundo e nós mesmos somos frutos dessa missão. Louvado seja o Senhor por cada pessoa que Ele usou e tem usado a serviço do evangelho na Paróquia São Lucas!
Olhando para os 50 anos de história da nossa Paróquia não podemos chegar a outra conclusão, senão a de que Deus é bom e sua fidelidade dura para sempre (Sl 100.5). Percebo o agir de Deus em nós e entre nós. Deus tem nos abençoado com sua presença, com sua Palavra que nos motiva a vivermos em comunhão e serviço.
Tenho muita alegria em poder servir a Deus como Pastora nessa Paróquia, junto com pessoas tão especiais que edificam a minha vida e tem me ensinado ainda mais sobre o amor de Deus. Essa Paróquia é uma grande família da fé, cada pessoa tem suas particularidades e diferenças, mas cada qual é importante e faz parte deste mesmo corpo, o corpo de Cristo.
Que possamos nos manter bem unidos ao Senhor dessa Igreja, nosso Jesus. A Paróquia São Lucas é de Jesus! Que nós possamos viver em união sabendo que a razão de nossa existência é o nosso Senhor. “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11.36)
Responsável pela matéria: Daniel Schattschneider