Prezada Comunidade:
De maneira especial, o Evangelho de Lucas tem uma preocupação especial com o diálogo e a igualdade de gênero. Nele podemos ver que Jesus tinha uma preocupação para que homens e mulheres falassem de sua fé em Deus. Isso é interessante, porque geralmente as mulheres ficam à margem da história, nem são mencionadas. Mas aqui no Evangelho de Lucas elas tem um papel de destaque, no mesmo nível que os homens.
Por exemplo:
O Evangelho segundo Lucas fala de um homem que planta o grão de mostarda, mas também fala de uma mulher que esconde um pouco de fermento na massa (Lc 13.18-21); Se refere a um homem que sai a procura da ovelha perdida, mas também menciona de uma mulher que procura uma moeda perdida (Lc 15.4-10);
Conta a história da morte do filho único da viúva, mas também conta o desespero de Jairo, que vê sua única filha morrendo (Lc 7.12; 8.42); O evangelista Lucas fala da cura – no sábado – da mulher encurvada e conta também cura – num sábado – de um homem com as pernas e os braços inchados (Lc 13.10-17; 14.1-6); O Evangelho traz duas listas com as pessoas que seguem Jesus – uma de homens, em Lc 6.12-16 (Pedro, André, Tiago, Felipe, João, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Simão e Judas) e outra só de mulheres (Maria, Joana, Maria Madalena e Susana) em Lc 8. 1-3.
História que envolve mulheres.
Maria visita Isabel e depois que Maria entendeu os planos de Deus, ela exalta a grandeza de Deus através de um Cântico.
Maria
Maria – a mãe de Jesus – ainda era uma adolescente. Ela tinha por volta de 13 ou 15 anos. Ela estava muito preocupada. Provavelmente não havia contado nada para sua família. Ela ainda era muito jovem e ficou grávida antes do casamento. Maria era a prometida do José, um homem bem mais velho. E quando José ficou sabendo que ela estava grávida, ele sentiu-se traído por Maria. Ele tinha certeza que Maria tinha se deitado com outro homem, porque ele sabia que ele não era o pai da criança. Podemos imaginar a tremenda angústia de Maria. Ela não entendia nada. Sua vida de um momento ao outro virou de cabeça para baixo. Seus dias e noites se transformaram em angústia, em desespero. Para entender o que Deus estava fazendo, foi preciso muito diálogo, muita conversa.
Para entender os planos de Deus foi preciso muito diálogo
– Primeiro ele teve um diálogo do anjo Gabriel (Lc 1.26-38)
– Depois ela teve esse diálogo com José (Mt 1.19)
– Para acalmar o José, foi necessário que o mesmo anjo Gabriel também conversasse com ele (Mt 1.20-24)
– e, por fim, era necessário conversar com uma pessoa mais experiente, uma mulher que aconselhasse a Maria, como Isabel (Lc 1.39-45)
Foi através do diálogo que Maria (e também José) foram compreendendo onde estava a ação de Deus no meio daquela situação de angústia.
Angústias precisam de diálogo
Também em nossa vida hoje, há momentos em que tudo parece estar de cabeça para baixo. Quem sabe, não é Deus que também está querendo transformar alguma coisa através de mim ou de você! Por isso, nos momentos de angústia, de dúvida, de confusão – devemos nos perguntar: O que Deus quer que eu aprenda com essa situação? O que Deus está querendo me mostrar que eu ainda não vi?
É no diálogo com outras pessoas, é prestando atenção ao que acontece a nossa volta, que nós vamos compreender o que Deus quer nos ensinar.
Gestos que mostram abertura para o diálogo:
A forma como Isabel recebe a amiga é fundamental para o início de uma boa conversa. Ela abre os braços, alegra-se com a visita de Maria. Isabel sente que o seu filho na barriga também se mexe, também se alegra.
Diálogo entre gerações diferentes:
Apesar da grande diferença de idade – Maria com 15 anos e Isabel com 80 anos – essas duas mulheres se encontram como amigas. E é isso que Deus quer mostrar quando visita seu povo. As visitas, precisam ser manifestações de afeto, de carinho. O convívio entre as pessoas da comunidade/da igreja, da família só será enriquecedor se for caloroso, afetuoso. Através da visita e do diálogo, problemas podem ser resolvidos, depressões podem ser superadas.
Missão da igreja
Por isso, a igreja de hoje deve proporcionar mais espaços de diálogo, onde as pessoas podem falar de suas dúvidas, de suas preocupações e de suas angústias. Nós podemos ouvir a Palavra de Deus no momento do culto, mas sem diálogo, muitas vezes não conseguimos entender o sentido dessa palavra para nossa vida. Sem diálogo, não conseguimos entender a manifestação de Deus em nossa vida.
Através do diálogo que Maria entendeu os planos de Deus para sua vida. Por isso, Maria exalta a grandeza de Deus. Ela não fala de si. Ela reconhece a grandeza de Deus, expressa sua alegria e seu agradecimento porque o Senhor se fixou em sua pequenez. O fato de saber que ela é parte de um plano de Deus, provoca nela o sentimento de gratidão e de louvor.
O Cântico de Maria
O Cântico de Maria fala do verdadeiro sentido do nascimento do Filho de Deus. O nascimento do Filho de Deus é o cumprimento da esperança dos profetas, que anunciaram centenas de anos atrás. Com o nascimento de Jesus se instalará nesse mundo o reino de Deus – reinado de paz e de justiça. Deus virá para transformar esse mundo. Jesus vai mostrar que as pessoas pobres, doentes e fracas são importantes para Deus. Porque o coração de Deus sempre está mais perto do sofrimento humano.
A presença de Jesus será tão forte que os fortes e poderosos desse mundo – podem cair de um momento ao outro – como fruta madura que cai da árvore. O Cântico de Maria diz que os pobres – e os que forem solidários com os pobres – esses terão no Filho de Deus um Salvador, mas os opressores , e os que se opuserem a esse projeto libertador de Deus – esses terão no Filho de Deus um juiz.
Maria se sente agradecida a Deus porque ela entendeu a vontade de Deus. Deus está preparando a sua participação ativa na transformação desse mundo. Ela – Maria – José – Isabel – Zacarias – todos são participantes dessa transformação preparada por Deus.
É assim que nós, protestantes, vemos a Maria. Como uma participante ativa no projeto de Deus para transformar esse mundo. Para nós protestantes, Maria é a mãe de Jesus, que através de muito diálogo foi entendendo a vontade de Deus para sua vida.
Martim Lutero fez um comentário sobre esse texto dizendo assim:
Maria nos diz aqui claramente: Deus olhou para mim, moça pobre, desprezada, simples, quando bem poderia ter encontrado uma rica, distinta, nobre, poderosa rainha, filha de príncipe ou grande senhor. Poderia muito bem ter escolhido a filha de Anás ou Caifás, que eram os chefes da nação. Mas ele voltou seus olhos tão bondosos para mim e se valeu de uma serva tão simples e desprezada, para que ninguém se glorie na presença de Deus, dizendo que mereceu ou merece tudo isso. Também eu devo confessar que isso é pura graça e bondade de Deus, e de forma nenhuma, mérito ou dignidade minha.
Todos e todas estamos nos planos de Deus.
Nossa tarefa – como igreja – é fazer que as pessoas compreendam que todos – mulheres, homens, idosos, jovens e crianças – todos nós, temos um papel importante nos planos de Deus. E o que Deus espera de nós está registrado principalmente nos Evangelhos e nos outros textos do Novo Testamento.
Que Deus nos faça ver o mundo que ele quer transformar, em nossa vida, em nossas famílias, em nossas igrejas e no mundo. Que Deus nos dê a mesma visão de transformação e entendimento que ele deu a Maria. Amém.
P.Nilton Giese