A Comunidade Evangélica de Confissão Luterana em Santa Maria/RS viveu um momento muito especial no último domingo, dia 03 de novembro. Após intensos trabalhos de restauração do templo, o espaço acolheu novamente o culto comunitário.
A Comunidade de Santa Maria pertence ao Sínodo Centro-Campanha Sul, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Além de membros da comunidade e pessoas visitantes, estiveram presentes o Pastor Odair Braun, Pastor 1º Vice-Presidente da IECLB, o Pastor Sinodal, Pastor Décio Weber, Ministras e Ministros do Sínodo.
Ao mesmo tempo em que marcou o retorno ao templo, a celebração rememorou uma longa trajetória de testemunho de fé região.
Instalação dos sinos causa alvoroço
No dia 8 de abril de 1866, realizou-se o primeiro culto luterano na cidade, com o Pastor Hermann Borchard, vindo de São Leopoldo/RS. Neste mesmo dia, aconteceu a fundação oficial da Comunidade, que já contava com cerca de 400 pessoas.
Em 1867, a Comunidade obteve a concessão de um terreno para a construção da igreja. A capela, ainda sem torre e sino, foi inaugurada em 14 de dezembro de 1873. Naquela época, a Constituição do Brasil Império não permitia que os espaços de culto de religiões não católicas tivessem forma exterior de templo. Isto significa que não podiam ter torres, nem sinos.
Apesar das restrições, a Comunidade começou a se preparar para a construção de uma torre e a aquisição de 5 sinos. Os sinos chegaram da Alemanha em 1886. A torre foi erguida em 1887 e três sinos foram instalados nela. A Comunidades destinou os outros dois sinos para a capela de Pinhal, hoje Igreja da Comunidade em Itaara/RS.
A inauguração da torre e dos sinos aconteceu em culto festivo no dia 30 de outubro de 1887. Neste dia, os sinos tocaram por longo tempo. O fato causou controvérsia e grande alvoroço na cidade porque ainda valia a determinação da Constituição de 1824. A despeito da contrariedade, o templo se tornou um símbolo da luta por liberdade de expressão religiosa em nosso país.
Crucifixo salvo das chamas
Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, a Comunidade se confrontou novamente com dificuldades. Não era mais possível realizar cultos e atividades em língua alemã. Em 1942, o Pastor Otto Hoffmann foi preso. Na sequência, o templo e a casa pastoral foram saqueados, os arquivos comunitários queimados. Vários outros pertences da Comunidade sofreram destruição. Em meio às chamas, uma mulher entrou no templo e salvou o crucifixo, que está até hoje sobre a mesa do altar.
Em 1960, o templo passou por reformas e ampliação. Durante a reforma, encontrou-se uma caixinha com papeis de 1887. Infelizmente, o seu conteúdo estava ilegível. Em 2002, o templo recebeu tombamento como patrimônio histórico do município. Em 2014, iniciou-se o processo de restauro, que teve a conclusão neste ano.
Sinos testemunham a fé e anunciam a paz
Paz na Terra! Friede auf Erden! Esta frase está inscrita em um dos sinos que badalaram em 30/10/1887. Na pregação, o Pastor Odair Braun destacou que o badalar dos sinos anunciou que, em Santa Maria, viviam pessoas de fé e confiança em Deus. Estas pessoas queriam liberdade religiosa, queriam o direito de viver em comunidade e em paz.
Braun também ressaltou o fato de que a Comunidade abriu mão de dois sinos para enviá-los a uma outra comunidade. “Vejo nessa atitude uma clara intencionalidade missionária, um sinal de amor ao próximo e desejo de ver a palavra de Deus se espalhar”, disse o Pastor 1º Vice-Presidente.
Ao instalar os sinos, a Comunidade deu sinal de fé e confiança, continuou o Pastor. A Comunidade quebrou regras porque queria anunciar o Evangelho e viver a comunhão. Para ele, isto é vivência das palavras bíblicas de Deuteronômio 6.1-9.
A cruz, salva do fogo, retornou ao templo. Aqui ela está e aqui neste altar ela continuará. Olhem sempre de novo para esta cruz. Ela é símbolo da nossa redenção, sinal do poder de Deus, concluiu.