Relato sobre as enchentes no âmbito do Sínodo Rio dos Sinos
P. Carlos E. M. Bock
Pastor Sinodal
A área geográfica do Sínodo Rio dos Sinos faz parte do vale do Rio dos Sinos, Rio Gravataí, Rio Jacuí e lago Guaíba. As chuvas intensas, nas últimas semanas, causaram a maior enchente já registrada até hoje no Estado do Rio Grande do Sul. Como consequência, temos milhares de pessoas desabrigadas em todo o Estado. Por sermos o lugar de maior concentração de pessoas, temos o maior número de desabrigados no Estado. Calcula-se que 77.000 pessoas ficarão sem onde morar depois da enchente.
As pessoas mais atingidas são as que ganham até 2 salários-mínimos. E não é possível reorganizar-se com uma renda tão baixa. Sem a ajuda do Estado e da sociedade não conseguirão se restabelecer.
Na área do Sínodo Rio do Sinos a principal atividade neste momento é colocar voluntariado nos abrigos e fornecer a alimentação. Há muitas pessoas acolhidas em abrigos. Os abrigos temporários têm problemas de convivência e casos de violência e casos de assédio.
No Sínodo Rio dos Sinos, três comunidades foram atingidas pelas águas. A Comunidade do Relógio/ Igreja de Cristo em São Leopoldo, a Comunidade Mathias Velho em Canoas e a Comunidade da Paz em Porto Alegre, no bairro Navegantes. O prédio da Comunidade Vida Nova, na vila Campina em São Leopoldo, também foi atingido. Historicamente, as cidades cresceram ao redor de nossas igrejas. Geralmente, escolhia-se um lugar alto de onde se via a igreja de longe. Esta prática dos antepassados garantiu lugares mais elevados para a construção da maioria das nossas igrejas, por isso a maioria delas não foi atingida.
Das nossas entidades diaconais, 9 prédios foram atingidos, gerando muitos transtornos. Em torno de 100 crianças em situação de acolhimento judicial tiveram que ser realocadas em poucas horas. Na ABEFI, 5 espaços de acolhimento de crianças em situação de abrigamento judicial foram removidos para outros lugares para continuarem em funcionamento. Também, em Novo Hamburgo, um trabalho de assistência social básica chamado Ação Encontro, no Bairro Santo Afonso e a Escola de Educação Infantil da Vila das Flores foram invadidos pela água. Na CEPA, em Porto Alegre, foram atingidas a Escola de Educação Infantil Lupicínio Rodrigues e o CEDEL, um centro de assistência social básica para crianças e adolescentes.
Um testemunho de luz na escuridão
Mesmo nas comunidades afetadas pela enchente houve uma resposta imediata na organização de espaços de acolhimento, proteção e alimentação para as pessoas que necessitam de abrigo.
A Comunidade de São Leopoldo, a partir do Ponto de Pregação Cristo Rei, tem reunido diariamente mais de 30 pessoas para preparar refeições às pessoas abrigadas em espaços sem infraestrutura de cozinha.
A Comunidade da Ascensão de Novo Hamburgo, em parceria com outras comunidades, está servindo milhares de refeições diariamente. Já contabilizaram 50.000 refeições servidas, inclusive em locais alagados, para pessoas que não quiseram abandonar suas casas.
A Comunidade de Hamburgo Velho montou uma sala de costura e está produzindo centenas de lençóis e fronhas. Também produz quentinhas. Tem uma cozinha especial para produzir comida para bebês e pessoas com diabetes e outras implicações alimentares.
A Comunidade da Floresta Imperial de Novo Hamburgo, juntamente com a ABEFI, acolhe 300 pessoas no Ginásio de esportes. Além disso, atende através das unidades da ABEFI, as necessidades dos familiares de funcionários e moradores do entorno de seus espaços de diaconia.
A Comunidade de Canoas serve diariamente centenas de refeições numa das áreas mais atingidas da grande Porto Alegre. Entregam, diariamente, 500 quentinhas para o sistema de alimentação dos abrigos improvisados.
A Comunidade de Canudos, em Novo Hamburgo, tem produzido centenas de refeições diariamente para os locais de abrigamento. Os confirmandos e as confirmandas ajudam a escrever versículos bíblicos e mensagens de apoio e esperança para as pessoas que recebem as “quentinhas”. A mesma ação é feita na Comunidade de Canoas.
A Comunidade de Guaíba, mesmo sendo uma pequena comunidade, com pouco mais de 80 pessoas ativas, está fornecendo “quentinhas” para as pessoas abrigadas. Pessoas que não são da comunidade se somam para realizar o trabalho.
A Comunidade da Scharlau, em São Leopoldo, abriga, no seu Ginásio de esportes, 47 pessoas com deficiência. São moradores de uma Casa de Acolhimento próximo à comunidade que foi invadida pelas águas. A comunidade ainda ajuda nas necessidades dos desabrigados do entorno.
A Faculdades EST está abrigando nas suas dependências pessoas atingidas pela enchente. Iniciou com 80 pessoas e acolheu mais um grupo depois da segunda chuva.
A Paróquia de Sertão Santana está abrigando 80 pessoas e cuidando de suprir as suas necessidades. São pessoas desabrigadas da cidade de Eldorado do Sul.
A Comunidade Salvador, de Porto Alegre, está fornecendo quentinhas diariamente para o sistema de alimentação dos abrigos.
Todas as comunidades, membros, ministros e ministras do Sínodo Rio dos Sinos, de uma forma ou outra, estão solidárias e participando com ações concretas de ajuda às pessoas atingidas. Muitas pessoas atuam diretamente em abrigos, ofertam financeiramente, fazem doações materiais ou acolhem em suas casas pessoas desabrigadas.
O acompanhamento espiritual e psicológico é oferecido por nossas comunidades através de ministros, ministras e profissionais da psicologia que se voluntariam para a tarefa na área da saúde mental. A Faculdades EST oferece um canal on-line de Escuta Solidária realizada por professores e estudantes.
Precisamos acolher, cuidar, proteger, ouvir, chorar junto! Mas, também, vamos ajudar a erguer a cabeça, a olhar para a frente e acreditar que há um futuro a ser construído, com a graça de Deus.
No Sínodo Rio dos Sinos, através do engajamento de nossas comunidades, está acontecendo, na prática, o amor cristão. Mesmo as comunidades que foram atingidas conseguiram encontrar uma forma de se solidarizar e praticar o amor. São pessoas de nossas comunidades sendo luz na escuridão, a partir da prática diaconal.
Vemos a ação das pessoas que creem, assumindo a tarefa dada por Jesus Cristo de acolher as pessoas que sofrem. A pronta ação destas irmãs e irmãos é um precioso testemunho de fé. No meio da escuridão a luz apareceu e, quando necessário, o sal está agindo para preservar vidas e a dignidade das pessoas.
O testemunho fiel da Palavra de Deus nos dá esperança e forças para recomeçar. Primeiro, vamos cuidar uns dos outros, umas das outras, ajudando as pessoas a reorganizarem as suas casas, o lugar de viver em família. Juntamente, vamos restabelecer nossas comunidades como local de acolhimento e restabelecer a coletividade, com o sério compromisso de mais cuidado com a criação de Deus. É o testemunho cristão de ser luz e sal, trabalhando pela vida digna que Jesus desejou a todas as pessoas.
Expressamos nossa gratidão a todas as pessoas e instituições locais e de outras cidades, estados, países, que tem feito as doações fundamentais para serem suporte à vida das pessoas atingidas por esta catástrofe. Muito obrigado!
> Mensagens e relatos sobre as enchentes no Rio Grande do Sul