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Mundo, ouça! Tenho…

(Artigo do periódico “Scope”, revista para mulheres da ‘The American Lutheran Church’, escrito por Betty Ulrich, St. Paul, Minnesota. Título original “Old Age Is Not For Sissies”. Traduzido do inglês por Ruthild Brakemeier.)

Se você está no auge de uma vida vigorosa, tente imaginar ter que fazer duas ou três tentativas para se levantar de uma cadeira. Uma vez em pé, você não tem certeza se suas pernas vão sustentá-la. Quando você começa a andar, elas precisam de muito incentivo para seguir o caminho certo. E, uma vez em movimento, você percebe que precisa de toda a sua concentração para se manter equilibrada e não cambalear por aí. Você arruma metade da sua cama e precisa sentar-se para se recuperar. Seus olhos ficam embaçados quando você tenta ler e talvez tenha que limitar sua leitura a edições com letras grandes. Você não consegue conversar livremente com as pessoas como de costume, porque ouve apenas metade do que elas falam. Você não consegue dirigir um carro e não consegue subir os degraus do ônibus. Você odeia ser um fardo para seus amigos mais jovens, pedindo carona — especialmente porque você é muito lenta na locomoção. Você corria pela casa, fazendo as tarefas de casa, você dançava, ou dava longas caminhadas, sem pensar no cuidado do seu corpo. Agora, você precisa de todo o esforço que consegue reunir para andar pelos corredores do supermercado, mesmo apoiando-se no carrinho de compras. Não é à toa que as pessoas dizem: “A velhice não é para aventureiras”!

Pessoas com idade avançada percebem que não têm mais controle sobre grande parte de suas vidas. Você consegue imaginar o que isso significa para elas? Assim, é compreensível que muitas se retiram para dentro de si mesmas, perdem o interesse pelo meio em que vivem, caem em depressão ou senilidade.

Muitas de nós temos pais/mães ou amigos e amigas nessa situação. Meu marido e eu, na casa dos 60 anos perto da aposentadoria, ainda temos dois de nossos quatro pais vivos, ambos com mais de 90 anos. Um deles mora conosco; o outro, em uma casa de repouso. Descobrimos que eles, assim como outras pessoas idosas que conhecemos, começam a questionar sua “utilidade”. Visto que a autoestima está frequentemente ligada à necessidade de se sentir “útil”, perguntamos: Como podemos ajudar nossos entes queridos a se sentirem úteis?

Talvez a regra básica seja: trate-os como seres humanos. Isso pode parecer desnecessário mencionar, mas nossa experiência indica o contrário. A tendência da maioria das pessoas, quando estão em um grupo que inclui uma pessoa muito idosa e, especialmente com dificuldade de audição, é ignorar essa pessoa ou, talvez pior ainda, dirigir-se a ela indiretamente através de outra pessoa: “A vovó gostaria de sobremesa”? “Como o avô está se sentindo hoje”? Por que não perguntar diretamente à avó ou ao avô? Pode ser que você terá que repetir algumas vezes a mesma coisa. Mas quem sabe também seja bom diminuir o ritmo da fala e pronunciar as palavras mais claramente.

Não faz muito tempo, convidamos pessoas para jantar, e as mulheres aproveitaram a ocasião para sentar ao lado da minha mãe e conversar com ela. Na manhã seguinte, depois do café da manhã, minha mãe estava radiante enquanto me contava sobre a conversa que elas tiveram. Embora isso possa não fazer com que a pessoa se sinta útil, pelo menos confirma que ela ainda é um ser humano vivo, capaz de manter uma conversa e contribuir com algo. Tentamos dizer à nossa mãe que existem outras maneiras de ser “útil”, além de limpar a casa ou cozinhar. Tê-la conosco nos lembra — a nós e aos nossos filhos adultos — que todos nós, caso sobrevivermos, envelheceremos e teremos menos força e menos capacidade para “fazer algo”. Como gostaríamos de ser tratados quando chegarmos a essa fase? “Faze as outras pessoas o que gostarias que te fizessem” ganha um significado adicional. Além disso, as prioridades de cada um tornam-se mais significativas. O que quero fazer com o tempo de vida ativo que me resta? Que objetivos e recursos internos estou acumulando para usar quando me tornar incapaz de funcionar de forma independente? A presença de uma pessoa idosa pode nos lembrar de nossas prioridades. Outras duas áreas “úteis” para pessoas idosas envolvem a memória e a oração. Minha mãe conta histórias de “como era” quando ela era criança na virada do século, um modo de vida que não existe mais, exceto através de sua memória. Somos enriquecidas ao aprender mais sobre nossas “raízes”.

Depois, existe a oração. As pessoas com mobilidade reduzida têm mais tempo do que qualquer outra coisa. Suas orações podem muitas vezes ser seu “trabalho” – se é que acreditam na importância da oração.

Ao viver com pessoas idosas, também se aprende que elas têm necessidades especiais. O calor é uma delas. Elas precisam de roupas quentes e um ambiente mais aquecido do que as pessoas mais jovens e ativas. Joelheiras, meias grossas, pantufas ou roupas íntimas compridas, xales, mantas, etc.

As pessoas também precisam de “calor” de outro tipo: o calor da companhia. Uma maneira de implementar isso é jogando jogos com aqueles cuja capacidade mental não está comprometida. Jogamos Palavras Cruzadas com minha mãe. Ela me vence pelo menos metade das vezes. Às vezes, meu marido se junta a nós.  Há diversos jogos de mesa interessantes, uns simples, como “Devagar se vai ao longe”. Podemos não falar muito com ela durante os jogos pois mesmo com dois aparelhos auditivos ainda tem dificuldade para ouvir; mas estamos compartilhando nossas mentes e nosso tempo com ela e sabemos que muitas vezes essas “sessões” são o ponto alto do dia dela. Assim como cada um, pessoas idosas precisam ver outros rostos além dos da família. Por isso, convidei outra senhora idosa para visitar minha mãe e fazer jogos com ela. Ela, por sua vez, convidou minha mãe para ir à casa dela em semanas alternadas. Muitas vezes, pessoas amigas e parentes mais velhas têm necessidades que não gostam de mencionar, como por exemplo, lixar as unhas das mãos, ou, devido a problemas de visão ou artrite cortar as unhas dos pés. Querem que seus cabelos fiquem “bonitos”, mas não conseguem cuidar disso sozinhas. Nós podemos atender a essas necessidades. Reserve um tempo para aprender os gostos e desgostos pessoais da sua pessoa idosa: uma blusa ou camisa bonita, um móvel confortável, certos alimentos, objetos de estimação ou uma música favorita. Mas, acima de tudo, atenção pessoal e tempo são presentes que não podem ser comprados e são profundamente valorizados.

Se você não tem parentes idosos por perto, os lares de idosos estão cheios de pessoas solitárias. Poderíamos adotar uma pessoa, dispostos a visitá-la periodicamente, quem sabe levá-la a passear ou participar de programas.

É maravilhoso que o conhecimento médico esteja constantemente adicionando mais anos às nossas vidas. Mas também pode ser uma tragédia se não fizermos um esforço conjunto para adicionar mais vida aos nossos anos!

 

Dizem que sou velha

Mundo, ouça! Tenho noventa e quatro anos.

As velas do meu aniversário brilhavam como fogo

quando as apaguei ontem.

Com elas foi-se a minha liberdade.

Chorei por dentro pela minha casa que tive de deixar.

Chorei por fora quando me mudei para o lar.

Um lar para idosos,

Um lar para lentos e doentes.

Mundo, ouça! Não sou assim tão velha.

É o corpo que diminuiu seu ritmo, não eu!

Não sou eu que demoro tanto para caminhar até o carro.

Não sou eu que me ajeito tão lentamente no banco do carro.

Mundo, ouça! Tenho noventa e quatro anos.

Ontem, depois que o bolo se desmanchou,

meu mundo desabou sobre mim.

Perdi as coisas que amava.

Meu carro. Muito velha e lenta para dirigir, disseram.

Meu gato. Não há espaço para ele numa casa para idosos.

Mundo, ouça! Tenho noventa e quatro anos.

Você pode encontrar esperança para substituir as lágrimas?

Preciso disso mais do que de um bolo.

(Louise Claspill, Palo Alto, Califórnia)

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