Em uma carta de 8 de abril de 1516 Lutero escreve a um monge augustiniano que dava muito trabalho nas comunidades por onde passava. Pelo teor do que nosso reformador escreve, este monge sofria de uma mal chamado “Vermessenheit”. Pela obra de Cristo os cristãos – todos e todas que aceitam Jesus Cristo como Senhor e Salvador e seguem sua PALAVRA – estão livres do pecado e da culpa. No entanto, alguns cristãos no fervor desta Salvação que não é sua, mas que vem de Deus gratuitamente, iniciam um processo de doença que faz reacender neles o próprio pecado do qual tinham sido resgatados: sendo salvos começam a julgar outros que, segundo o seu julgamento, são pecadores. Quem sabe rezam de uma maneira diferente, quem sabe cantam de formas distintas, quem sabe adorem a Deus de um jeito que não é o de costume, quem sabe haja distinções na forma de entender o discipulado, quem sabe simplesmente digam: _Não vou com cara deles!. Há sempre muitas justificativas para o ódio..para o AMOR e a VERDADE, apenas uma. A arrogância, então, sufoca o AMOR de Deus nos corações destes cristãos e eles passam a achar-se – somente eles – os corretos, os eleitos, os que são filhos de Deus. É claro, se eles são os que estão corretos, todo o “resto” não conta. O problema deste tipo de arrogância religiosa é que ela usa DEUS para justificar os preconceitos que são bem humanos e ela é perigosa porque chega à violência: primeiro verbal, a qual não tarda muito a virar violência física.
E Lutero pergunta ao nosso monge cheio de arrogância que julgava as pessoas das comunidades por onde passava se ele já havia abandonado a sua justiça e havia descansado na justiça de Deus, dada gratuitamente através de seu Filho, Jesus Cristo. Pois o erro da arrogância apenas pode ser vencido quando se sabe que o estar livre dos pecados não significa não ser mais pecador. Significa apenas que – mesmo diante dos erros humanos que cometemos e que, aliás, cometeremos toda a nossa vida – através da ajuda de Deus não queremos cometer mais, queremos portanto melhorar todo o dia no auxílio do irmão, na partilha dos dons, na vivência do evangelho, na solidariedade para com os doentes e na visita aos enfermos e no carinho ao enlutados. Mas essa graça recebida de forma gratuita, ou seja, ser perdoado e estar livre, não significa arrogância de julgar os outros. O que devemos fazer, sim, é tentar, com muita humildade ajudar que está em dificuldades os nos erros descritos pela sagrada escritura, mas jamais julgar, afastar, ser violento, seja com palavras ou agressões. E Lutero lembra: pois Cristo vive apenas entre os pecadores e é somente nEle que encontraremos a paz e o consolo para a nossa consciência e não no julgamento dos irmãos. Quem se sabe pecador, não será arrogante. Quem julga volta a estar preso ao pecado do qual pensa ter se libertado. Já não escuta mais a Deus e sim apenas aos seus próprios julgamentos. Quem se sabe pecador, pelo contrário, saberá acolher os irmãos que estão em dificuldade, pois também foi acolhido por Jesus Cristo. A comunidade cristã é formada por muitos pecadores. Ser luterano é saber-se, pois, livre do pecado, mas mesmo assim, ainda pecador. Humildade é terreno fértil onde a Graça abunda e o Amor cresce.
P. Dr. Leandro Hofstätter
Par. dos Apóstolos