Proclamar Libertação – Volume 8
Prédica: Marcos 2.18-22
Autor: Werner Brunken
Data Litúrgica: 2º Domingo após Epifania
Data da Pregação: 16/01/1983
1. Tradução
V.18: Ora, os discípulos de João e os fariseus costumavam jejuar. Alguns chegaram-se a Jesus e perguntaram: Por que jejuam os discípulos de João e os discípulos dos fariseus, mas os teus discípulos não jejuam?
V.19: E Jesus respondeu-lhes: Podem, porventura, jejuar os convidados para o casamento, enquanto o noivo está com eles? Durante o tempo em que o noivo estiver com eles, não podem jejuar.
V.20: Mas virão dias em que o noivo lhes será tirado, e naquele dia jejuarão.
V.21: Ninguém coloca um pedaço de pano novo em veste velha; porque o remendo arrebenta, o novo do velho, e a ruptura se torna maior.
V.22: E ninguém coloca vinho novo em vasilhames de couro velho; porque o vinho rasgará os vasilhames; e o vinho se derramará e os vasilhames perecerão. (Mas vinho novo se coloca em vasilhames novos).
2. Contexto
O presente texto faz parte de uma série de exposições, nas quais sempre está incluída uma discussão com os opositores de Jesus:
2.1-12 — O perdão dos pecados, que Jesus dá, é blasfêmia para com Deus?
2.13-17 — Pode o comer de Jesus com os pecadores ser desprezado?
2.18-22 — O não jejuar é sinal da falta de piedade?
2.23-3.6 — Jesus está desprezando o sábado, por ajudar pessoas neste dia?
Em todos estes textos vemos que a atitude de Jesus è observada criticamente.
3. Exegese
O vv. 18-22 tratam principalmente da atitude piedosa em relação ao jejum. Existiam dias e horas nos quais se exigia o jejum. Conforme Lc 18.12 os fariseus jejuavam duas vezes por semana. Procurava-se através de jejum alcançar uma certa perfeição moral, que era vista como sendo uma premissa para a vinda do Reino de Deus.
V.18: É importante observar que João e os seus discípulos viviam a realidade do jejum, praticada entre os judeus. Conforme Mc 1.7-8; Lc 3.16-17 e Mt 11.11, João Batista pertencia à tradição do AT. Por isso nunca lemos que os judeus tenham se revoltado contra João e seus discípulos, no que se refere à observação das leis judaicas.
Não podemos precisar com certeza quem são estes alguns que se dirigem a Jesus. Entretanto, podemos afirmar que se tatá de opositores de Jesus, de pessoas que não estavam concordando com o rumo que Jesus e seus discípulos estavam tomando. Se o jejum sempre existiu na vida do povo, por que a partir de Jesus este costume importante seria deixado de lado?
V.19: Jesus soube esclarecer bem a situação que estava vivendo. Quando se realiza um casamento — os convidados jejuam? Certamente, não! Pois casamento é motivo de festa e de alegria. No casamento se come bem e não há lugar para jejuar. A figura do casamento, por outro lado, é sinal do tempo messiânico (Mt 22.2ss; 25.1ss; Ap 19.7). Há alegria, pois o Messias prometido chegou. Agora iniciou algo novo. É tempo de salvação. Por isso os discípulos de Jesus não têm motivo para jejuar. Eles compartilham da alegria do casamento.
Se os discípulos de Jesus não jejuam, é porque confiam nele como sendo o noivo, que veio ao encontro da noiva, sua comunidade. Já no AT existe a figura do casamento — Deus e o seu povo — Os 2.19: Is 62.4. Partindo do AT, os discípulos dos fariseus e de João deveriam entender que com Jesus este tempo do casamento chegou Em todo caso, Jesus esclareceu definitivamente que, com a sua presença, começou o tempo da alegria. O jejum passou para o segundo plano. Com Jesus tudo é diferente. O jejum de maneira nenhuma com bina com o casamento. Mas em Mt 6.16-18 Jesus descreveu o jejum que deve ser observado de tal maneira, que ninguém o perceba. Para fora deve ser expressa a alegria de pertencer ao Senhor. Agora é casamento, é festa. Assim Jesus não elimina ou proíbe o jejum; mas este jamais deve tomar o lugar que pertence àquele.
V.20: Vários comentaristas afirmam que este versículo é um corpo estranho na afirmação anterior. Dizem que são palavras criadas pelas primeiras comunidades cristãs, que queriam justificar a sua prática do jejum. Entretanto, não precisamos ficar com esta afirmação. Prefiro compartilhar a explicação de quem afirma que o jejuar ‘naquele dia se refere à morte de Cristo na cruz. Neste dia jejuarão. Mas, com a ressurreição de Cristo, a alegria do casamento retornou (Lc 24.41 +52; Jo 16.22; 20.20). O noivo não era mais visível, mas, no poder do Espírito Santo, ele estava presente.
Vv. 21-22: Há sugestões para não incluir estes versículos na exegese do texto, pois são, até certo ponto, um corpo estranho. O jejum jamais deixou de existir na história da igreja cristã. Portanto, o não combinar do novo com o velho, não serve para esclarecer a relação nova de Cristo.
No entanto, grande parte dos comentaristas afirma que os versículos calham bem no texto anterior. Ademais, os evangelistas Mateus e Marcos usam as mesmas figuras ligadas ao texto do casamento.
A verdade é que o novo não combina com o velho. Se há casamento, que è símbolo de alegria, de comer, não pode haver jejum. Ou uma coisa ou outra. E, neste sentido, as duas figuras são excepcionais. Elas descrevem com grande exatidão o que Jesus afirma no v.19. O noivo veio ao encontro da noiva (Jo 3.16). Vivemos no tempo da sua graça. Não há lugar para jejuar e expressar tristeza. A novidade que Jesus traz não pode ser misturada com o velho. A veste velha precisa ser trocada pela veste nupcial (Mt 22.11). Não existe um remendar da velha piedade expressa no jejum. Vinho novo arrebenta os vasilhames velhos. A nova alegria trazida por Jesus destrói a velha piedade do jejum. No lugar deste existe alegria.
O noivo veio. Isto torna os convidados felizes e livres para experimentar esta nova realidade no seu viver neste mundo. Livres para levar alegria aos outros. Livres para agir no Espírito de Cristo.
4. Mensagem central
Jesus Cristo está presente entre nós, como sendo o noivo . Somos os seus convidados para a festa de casamento. Como tais, não podemos viver na tristeza, no jejum, no desespero. Em Jesus há alegria e somos convidados para trocar a tristeza por esta alegria.
5. Meditação
1. Muitas vezes vivemos tristes e desesperados. Não conseguimos cumprir as velhas práticas, podendo ser elas o jejum, o sábado, o falar em línguas, tradições, estruturas. Temos dúvidas quanto às práticas exigidas pela sociedade e também pela comunidade religiosa. Tudo é comparado com outros que vivem diferente. De outro lado, encontramos pessoas que expressam alegria e não vivem tanto as normas e leis, que lhes proporcionassem tristeza. Pertencemos àqueles que apontam o dedo para os outros, dizendo: vocês estão perdidos, pois não guardam… Mostramos incompreensão para com aqueles que falam e agem diferente? Mostramos incompreensão diante dos movimentos que ajudam os marginalizados?
2. Vivemos na época do casamento. A vinda de Deus em Jesus se consumou. Agora é tempo de festa e de alegria. Quem participa de um casamento deixa a tristeza para trás. Não há tempo para discutir sobre formas antigas que nos querem prender ao passado. Vivemos no tempo da alegria, pois o noivo chegou. Temos recebido Jesus Cristo como sendo o noivo, em cuja presença devemos estar? Ou vivemos longe da festa do casamento?
3. Há necessidade de trocar a tristeza, o desespero, a incompreensão, pelo perdão, pela vida que Jesus trouxe. Quantas situações poderiam ser diferentes em nossa vida, se déssemos mais atenção a esta realidade. Jesus nos convida para colocarmos de lado a velha criatura, descrita com as figuras do vasilhame velho e da veste velha. Não adianta querer remendar. Tudo precisa tornar-se novo, começando naturalmente pela vida das pessoas. Pois onde as pessoas não são renovadas por Cristo, ai todo o esforço para conseguir dias melhores para a sociedade será inútil.
Podemos comentar aqui 2 Co 5.17 e 1 Ts 5.4-11. Revestindo-nos de Jesus Cristo, podemos viver na alegria do Senhor. Vamos abandonar as velhas práticas, que por vezes nos afligem e entristecem. Vamos trocar de senhor. Jesus Cristo é a nossa alegria — também nas estruturas que parecem sufocar-nos. Ele é como a nova roupa, o novo vinho, que só pode existir numa nova criatura, que foi purificada pelo sangue de Jesus. A partir desta nova criatura, que participa da alegria do casamento, será levada nova alegria às outras pessoas. Ai poderá haver transformação na sociedade.
6. Esquema para a prédica
1. Como introdução, descrever a situação de escravidão, em que por vezes vivemos, conforme exposto na meditação. Ver formas que escravizam e entristecem hoje.
2. Descrever como a gente se sente num casamento. A presença de Jesus é casamento. Nós somos os convidados. Aceitamos o convite?
3. Jesus é o noivo. A sua presença exige troca da velha criatura por uma nova, que só Jesus pode dar. Descrever as figuras dos vv. 21 e 22. O novo não combina com o velho. Se queremos participar do casamento, precisamos ser lavados pelo sangue de Jesus e vestir-nos das vestiduras brancas.
4. Esta nova vida precisa ser exercitada no sentido de levar a alegria do Senhor aos outros. Precisa ser exercitada no sentido de usarmos a liberdade conquistada na atenção para com os que vivem em qualquer tipo de tristeza, de escravidão.
7. Subsídios litúrgicos
1. Confissão dos pecados: Senhor, nosso Deus! Tu desejas que sejamos alegres, pois tu estás conosco. Entretanto, muitas vezes nos sentimos tristes e abatidos. Muitas vezes não demonstramos que somos novas criaturas em ti. Pedimos-te que nos perdoes peio sangue de Cristo, quando não vivemos a tua realidade. Tem piedade de nós, Senhor!
2. Oração de coleta: Deus e Pai! Estamos reunidos em teu nome e isto é maravilhoso. Concede que neste encontro possamos entender a tua mensagem de tal maneira que ela nos transforme. Que sejamos renovados totalmente por ti, a fim de servirmos uns aos outros em alegria. Por Jesus Cristo, nosso Salvador. Amém.
3. Assuntos para a oração final: agradecer pela mensagem; expressar a gratidão pela nova vida e alegria que experimentamos em Jesus Cristo; dispor-nos a ser seus instrumentos na vivência diária, a fim de que outros sejam transformados e possam alegrar-se no Senhor; Não adianta remendar — o que importa è transformar; sejamos agentes transformadores neste mundo velho e podre; somente assim surgirá nova vida no mundo.
Hinos: 100, 162, 166 (Hinos do Povo de Deus).
8. Bibliografia
BAUER, G. Meditação sobre Marcos 2.18-22. In: Hören und Fragen. VdK 5. Neukirchen, 1967;
RUPRECHT, W. Meditação sobre Marcos 2.18-22. In: Calwer Predighthilfen. Vol. 9. Stuttgart, 1970;
SCHABERT, A. Das Markus Evangelium. München, 1964;
SCHNELL, H. Die Lesepredigt. München, 1977;
SCHNIEWIND. J. Das evangelium nach Markus. In: Das Neue Testament Deutsch. Vol. 1. 7. ed. Göttingen, 1956;
VOIGT, G. Meditação sobre Marcos 2.18-22. In: —. Die grosse Ernste. 2. ed. Göttingen, 1976;
ZIMMERMANN, W.-D. Markus über Jesus. Gütersloh. 1970.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).