O princípio “somente a fé” indica que uma pessoa não pode alcançar justificação diante de Deus através de boas obras, mas apenas mediante a fé. O fundamento desta convicção está na afirmação do apóstolo Paulo de que o ser humano é justificado pela fé, sem as obras da lei:
Concluímos, pois, que o ser humano é justificado pela fé, independentemente das obras da lei. (Romanos 3.28).
O texto grego não traz a palavra “somente”. Lutero a incluiu para destacar que ninguém pode se respaldar em obras e em justiça própria. Pessoa justa não é aquela que pode exibir méritos, e sim aquela que deposita confiança em Deus.
Lutero descobriu a justificação pela fé depois que compreendeu a justiça de Deus: “Dia e noite eu andava meditativo, até que por fim observei a relação entre as palavras: ‘a justiça de Deus é nele revelada, como está escrito: o justo vive por fé’ [Romanos 1.17]. Aí passei a compreender a justiça de Deus como sendo uma justiça pela qual o justo vive através da dádiva de Deus, ou seja, da fé. Então senti-me como que renascido, e entrei pelos portões abertos do próprio paraíso”.
A fé é um dom, um presente de Deus. Neste sentido, os princípios “somente a fé” e “somente a graça” estão intimamente ligados (Efésios 2.8). Por isso também se fala em justificação por graça e fé.
Mesmo que as obras não possam contribuir para a justificação, o ser humano não está dispensado da prática do bem. Lutero nunca condenou as obras, mas unicamente a intenção de adquirir a justificação através delas. As boas obras surgem como consequência da justificação, não como condição para obtê-la.
O artigo VI da Confissão de Augsburgo declara que a fé “deve produzir bons frutos e boas obras, e que, por amor de Deus, se deve praticar toda sorte de boas obras por ele ordenadas, não se devendo, porém, confiar nessas obras, como se por elas se merecesse graça diante de Deus”. Na concepção luterana, não fazemos boas obras para conquistar o céu, mas para preservar o mundo.