O princípio “Somente Cristo” foi decisivo para desencadear o movimento da Reforma Protestante. Por muito tempo, o monge Martim Lutero viveu angustiado com a pergunta: como encontrar um Deus misericordioso? Naquela época, Deus era compreendido como um ser terrível, que punia as pessoas em vida e as enviava ao purgatório e ao inferno após a morte.
A visão de um Deus castigador estava baseada na compreensão de que cada pessoa recebe o que merece. Se for uma pessoa justa, recebe recompensa. Se comete pecado, merece castigo. Acontece que ninguém consegue chegar diante de Deus sem pecado e, com isto, ninguém poderia escapar do castigo divino.
Esta compreensão equivocada da justiça de Deus marcou a vida de Lutero por muito tempo. Ele procurava agradar a Deus e tornar-se justo. Entretanto, por mais que se esforçasse, percebia que não conseguia fazer o suficiente. Quanto mais procurava se aproximar de Deus, sentia que mais se afastava.
A vida de Lutero mudou quando ele compreendeu que a justiça de Deus tem o objetivo de perdoar os pecados. Deus não quer a condenação, mas a salvação das pessoas. Essa justiça divina se revelou na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Em Cristo, Deus não impõe condições para a acolhida e para o perdão. Ao compreender isto, Lutero entendeu que nada precisava, aliás, nada podia fazer para sua justificação. Tudo já havia sido feito por Cristo. É isso o que significa “somente Cristo”. A pessoa não depende de méritos e qualidades para ser aceita por Deus. Somente Cristo basta!
O fundamento da justiça divina é a compaixão. Ela é diferente da justiça que se baseia na aparência, no mérito, na intolerância, no pré-julgamento. Em Jesus Cristo, Deus se revela na miséria, na fraqueza, na dor, no sofrimento. O poder de Deus não manifesta em riqueza, pompa e majestade, mas na cruz. Na cruz encontramos um Deus misericordioso e solidário com o sofrimento humano. Com o poder do amor, vence a injustiça, a violência e a morte.
“Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5.8).