Proclamar Libertação – Volume 22
Prédica: Gênesis 28.10-17 (18-22)
Leituras: Romanos 5.1-11 e Marcos 8.31-38
Autora: Cristiane E. Petry
Data Litúrgica: 2º Domingo da Quaresma
Data da Pregação: 23/02/1997
1. Testemunho
Num mundo onde a confusão (diabolos) impera, uma confusão cuidadosamente programada, dos mais fortes e arrogantes sobre os cada vez mais indefesos, subnutridos e fracos, é muito angustiante ter o papel de falar. Há uma forte tendência a fugir. Como se pudéssemos nos abster!
Temos em nossa cabeça a imagem do grupo que vai nos ouvir, suspeitamos que o grupo vá diminuir, já foi-nos dito diretamente ou em meias palavras que a culpa é do/a pastor/a, há tensões na comunidade, há tensões sociais locais, ou mesmo as mundiais nos são escancaradas de forma pouco esclarecedora através da mídia, no pouco tempo em que estamos em família.
Mas a tarefa é dada: Ide, fazei discípulos…. Como fazê-lo?
Não somos nós que os/as fazemos (e aí vem a parte que permite que continuemos), mas é o Espírito de Deus.
É o conflito de Jeremias: Eu não sei como falar, pois sou muito jovem (Jr 1.6). Eu colocarei as palavras na tua boca, eu estarei contigo, diz o Senhor (Jr 1.4ss.).
É o conflito de João Batista: Tu que deverias me batizar, e Jesus responde: Faz a tua parte, João (cf. Mt 3.13-15).
É o conflito das mulheres ao dizerem: Mas isto é papel dos homens, e eis o ensinamento: Não há judeu nem grego, nem escravo nem liberto, nem homem nem mulher (Gl 3.28).
É o nosso conflito, de todos/as nós: Como vou testemunhar? E tem outro ensinamento: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza (2 Co 12.9).
Quer dizer que, se fizermos a nossa vida, a nossa ação depender de nossas forças, de nossa capacidade de pensar e articular, vamos passar pela vida sem a viver, deixando passar, muitas vezes, preciosas oportunidades. Mas se colocarmos nossos destinos nas mãos de Deus, os caminhos que trilharmos serão caminhos seguros.
2. Sobre o Culto
O culto, o encontro, é uma dessas oportunidades em que a grande tarefa de quem o coordena é facilitar o acesso das pessoas que ali estão às coisas de Deus. Cada símbolo, cada gesto, sorriso ou cara feia, canto, oração e palavra, se tornam parte da liturgia. São parte do culto. Ajudam ou atrapalham.
Compartilho a forma como têm acontecido os cultos em Alvorada, na Paróquia Maria Madalena, a qual tem teimado em ser Igreja de Jesus Cristo num contexto de vida muito complicado.
3. O Culto
(Pedir anteriormente para pessoas ou grupos catarem pedras pequenas, bonitas e limpas e colocá-las num cesto ou peneira sobre o altar.)
Saudação: Que o amor de Deus Pai, a graça de nosso Senhor Jesus Cristo e a comunhão do Espírito Santo estejam e permaneçam com cada um e com cada uma de vocês. Amém.
Cantos:
Tema bíblico do culto: Vós sois pedras vivas (l Pe 2.1-9).
Confissão de culpa: Senhor, nosso Deus, tu queres para o ser humano uma vida de equilíbrio, em que se tenha consciência de quem tu és e de qual é o nosso papel, de que tu és o Criador e Salvador e nós somos criaturas, apenas criaturas tuas, amadas e alvos da salvação.
Compreender isso tem sido muito difícil. Perdemo-nos em nossas angústias, descarregamos nossas tensões em lugares e momentos impróprios, desanimamos. Enfim, oh Deus, queremos neste momento mais uma vez nos colocar em tuas mãos, como o mais frágil dos passarinhos e te pedir:
— Tem piedade de nós, Senhor.
Absolvição: Deus ouve a oração do seu povo, Deus ouve o clamor do seu povo. Como à mulher adúltera, Cristo diz: A tua fé te salvou. Vai e não peques mais (Jo 8.1-11).
Glória a Deus nas maiores alturas:
— E paz na terra…
Oremos: Senhor, nos são apresentados tantos deuses diferentes, que às vezes fica difícil saber onde está o Deus verdadeiro, como te achar, como te seguir. Dá que possamos parar, dá que possamos te sentir, dá que possamos te compreender. Envolve-nos com teu amor e derrama sobre nós o teu Santo Espírito. Amém.
Leitura bíblica: Rm 5.1-11.
Credo Apostólico:
Canto:
4. Pregação
1) Distribuir as pedras e algumas canetas e pedir que cada um/a coloque o seu nome na pedra.
2) Contar a história de Jacó (Gn 28.10ss. e Gn 32.22ss.) usando para isso pessoas da comunidade.
Para os adultos, Jacó quase sempre é um personagem bíblico bem conhecido. Especialmente pela sua malandragem, pela sua aparente esperteza, mas que não passa de um engano que ele vai sendo forçado a trabalhar em situações que são colocadas em sua vida. Para as crianças, Jacó é alguém muito safado, de que elas não gostam. Preferem as parábolas e histórias em que Jesus é o personagem central.
Jacó é salvo como personagem bíblico em dois momentos. No episódio de Betei, em que experimenta uma grande proximidade a Deus. Ali ele sonha e neste sonho é abençoado. E em Peniel, quando se dá conta de que a luta que está travando é com o próprio Deus.
Em Betei, a pedra que Jacó carregava em seu coração, por ter que fugir, porque usurpara a bênção do pai, bênção esta que caberia ao seu irmão Esaú, agora transforma-se em travesseiro. O problema está fora dele. Jacó consegue deitar sobre ele.
Sempre quando conseguimos materializar nossos sentimentos, dar nome aos bois, são momentos importantes, em que Deus nos dá a oportunidade de mudarmos atitudes, rumos e metas.
E precisamos fazê-lo! Precisamos aproveitar o que nos é possibilitado. Não por acaso, mas pela intervenção de Deus. Jacó compreende: De fato, o Deus Eterno está neste lugar, e eu não sabia disto. Aqui é a porta do céu! Estava tudo aí ao meu dispor e eu não tinha me dado conta. Heureca, Jacó!
Deus entra em relação direta com esse servo conturbado e faz dele um ancestral do povo santo. Deus se dispõe a acompanhá-lo muito de perto: Eu te abençoarei e te protegerei onde fores (Gn 28.15). E, usando a pedra agora como altar, fazem um pacto entre si: Jacó e Deus.
Isso que falo de Jacó poderia falar de mim. E de cada u m/a de vocês, em momentos diferentes, em situações diferentes. Mas igualmente importantes.
O texto de Rm 5.1-11 que foi lido anteriormente nos ajuda nesse processo, pois nos coloca que fomos aceitos por Deus. Falando concretamente, a partir do nosso Batismo se inicia uma caminhada com o Deus da Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). E a forma como essa caminhada se dá tem muito a ver com a nossa disposição de nos deixarmos desafiar pelos sinais de Deus.
Jacó foi um. Nós somos outros: Paulos, Rudis, Anãs, Ninas, etc. Para cada um/a de nós, os caminhos de Deus estão abertos. Apesar dos neoliberalismos, Fernandos e Brittos, cujas práticas muito atrapalham e angustiam.
É preciso saber distinguir. É preciso dar uns passinhos pra trás e ver que além do nosso contexto imediato existe a oferta do reino de Deus — já aqui e agora em pequenos goles.
As pedras nas quais estão os nomes das pessoas são os compromissos de cada um/a com Deus.
Que Deus nos abençoe. Amém.
Cantos:
Avisos:
Oração final: (Na oração final são incluídos os pedidos específicos das pessoas que tiverem se manifestado através de um bilhete ou mesmo verbalmente, antes do culto ou mesmo antes do momento da oração.)
Bênção: Canto final:
5. Bibliografia
RAD, Gerhard von. Teologia do Antigo Testamento. São Paulo, ASTE, 1973. vol. l, p. 178-179.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).