A atual crise financeira global mostra a fragilidade do sistema econômico/financeiro neoliberal. Propalado como o único caminho certo, depois da queda do sistema comunista do leste Europeu, em fins dos anos 80, era saudado como um deus, infalível, com sua mão invisível controlando o mercado. Foi construído com arrogância, como a torre de Babel. Apesar da pompa e imponência, aos poucos vai caindo e quebrando como uma estátua de barro. Mas a tristeza das pessoas é do tamanho do valor que dão ao dinheiro.
Bolsas de valores despencam, poderosos choram, firmas quebram, pessoas entram em estresse. Os poderosos e seu sistema econômico, com base na especulação financeira, estão doentes. Estão passando muito mal. Chamam o SAMU, porque querem ser tratados num hospital do SUS. Única luz que surge é o bolso do povo, de onde pretendem seqüestrar o dinheiro dos impostos que está destinado para a universalização da qualidade de vida, através de políticas públicas.
Jesus fala para todos, “Não ajuntem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntem para vocês tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não escavam, nem roubam. Porque onde está o tesouro de vocês aí estará também o seu coração”.
Meu colega Frank Tiss, pastor luterano e professor, trabalha com grupos do povo Kulina, no sul do estado do Amazonas. Ele escreveu, dizendo que fez uma reflexão junto com o povo indígena. Frank escreve que “tudo nesta terra é de durabilidade limitada e é uma experiência diária para quem vive na selva. Que vale a pena dedicar-se ao que é eterno, os Kulina concordam imediatamente. E que o nosso coração fica sempre perto daquilo que para nós tem mais valor, já está até na língua deles: para dizer que amam alguém, dizem que o seu coração “está grudado” no outro.
O ser humano parece que tem o coração ‘grudado’ no dinheiro! E com o coração grudado no dinheiro, não estamos mais livres para a família. “Mas eu ganho dinheiro para facilitar a vida da minha família!”, muitos de nós respondem. Sim, mas mais do que do nosso dinheiro, a família precisa do nosso tempo e dedicação. A nossa comunidade precisa, nós mesmos precisamos para nossa qualidade de vida de tempo e dedicação. Precisamos trabalhar e nos preocupar com o pão da cada dia, sim. Mas para viver e não para acumular e explorar os outros, como é o sistema neoliberal.
Na fala acima citada, Jesus não mede o valor das pessoas pelo que elas têm. Pelo contrário, ele incentiva para que nós nos libertemos do vício destruidor de sempre querer explorar, acumular e aumentar os bens. E é um vício mesmo, pois nunca chega num ponto final, nunca estamos bem satisfeitos. Estamos tão ocupados com o nosso interesse de aumentar os nossos bens e viver o tratamento VIP às custas dos outros que as relações humanas, a religião ou a reflexão sempre ficam para trás. Por isso, vale dizer que sistema neoliberal foi na contramão da qualidade de vida. Faliu. Acabou. Morreram seus sonhos. Seus deuses estão muito doentes. Seus sofisticados hospitais com tecnologia de ponta e receituário ultra-moderno são inúteis. Agora, patéticos e com cara de pau, seus sacerdotes economistas chamam o SAMU e são tratados pelo SUS que, aliás, sempre desprezaram e era, para eles, o atraso. Aqui, é bom e quem paga a conta é o povo. Vê se pode?
Teobaldo Witter, pastor luterano, ouvidor do Detran e professor universitário
(Fonte: Diário de Cuiabá – 10/12/2008)