“Tenho sonhos ruins. Pesadelos. No sonho, minha irmã aparece com as mãos estendidas, pedindo ajuda. Antes de conseguir ajudá-la, eu acordo soada e trêmula. Pastor: estou sendo avisada que alguma tragédia vai acontecer com minha irmã?” O relato e pergunta foi feita pela srª Frida.
Na minha prática pastoral, tenho encontrado muitas pessoas que me falam de suas dores e de seus sofrimentos por causa de seu passado. Às vezes, são problemas pequenos, outras vezes são problemas mais graves. Mas todos eles são motivo de dificuldades atuais nos relacionamentos, no cuidado com seu próprio corpo, na sua sexualidade, na comida e bebida, na visão de fé e confiança, na saúde, nas noites mal dormidas. Não é fraqueza, nem vergonhoso encarar seu passado de forma aberta e transparente consigo mesmo. Jesus diz: Venham a mim, todos vocês que estão cansados e sobrecarregados, e eu os aliviarei (Mateus 11.28). O texto de Adriano nos ajuda a pensar sobre nossa história particular.
Vamos lembrar idéias de Zandoná: “Há historiadores que definem a história humana como “história de guerras e conflitos”, e, de fato, tal afirmação não está ausente de verdade. Esta é mesmo marcada por diversas dores e contrariedades que se entrelaçam em uma constante dinâmica de morte e de vida.
Há quem se envergonhe de sua própria história e há outros que dela fogem perpetuamente. Há quem não consiga se reconciliar com as perdas e contrariedades contidas na própria existência, nunca assumindo os próprios erros e fragilidades, e assim vivendo como alguém que “foge” eternamente da própria sombra.
Nossa história pode ser fonte de lembranças dolorosas, sim, mas também pode – com uma força extraordinária – ser fonte de autêntica e encarnada libertação. Reconciliar-se, pois, com a própria história: Eis o desafio e a oportunidade de nos compreendermos amados e aceitos no que somos”. (Adriano Zandoná)
Frida buscou ajuda. Seus sonhos não eram avisos futuros, mas retalhos de sua história. Há muitos anos, a sua irmã casou e mudou-se com a família para o Paraguai. Frida, também, casou e foi morar no Amazonas. Ela era a filha mais velha da casa. Na infância, a sua irmã chorou e pediu ajuda, numa briga que teve com o irmão. A coisa ficou feia. Levou uma surra do pai. Frida poderia ter evitado a briga. Mas, para dar uma lição na irmã, não fez nada. Coisa de criança.
Ela já havia esquecido a história. Mas os gritos de “não pai! para pai!”, acompanhado pelos estalos da cinta nas pernas, choro e os soluços da irmã ficaram na sua memória, no inconsciente, gravados para sempre. O tempo foi passando. Ficou uma pessoa mais sensível. No sonho, a história sai do inconsciente. E a acusa pelo ocorrido, 50 anos depois. Frida reconciliou-se com seu passado. A confissão do problema, o perdão, a oração e uma visita à irmã, no Paraguai, foram fundamentais para a sua saúde. Hoje, ela já não tem mais aqueles sonhos horríveis. Está feliz e reconciliada com a sua história. E Jesus diz: “Sejam meus seguidores e aprendam comigo, porque sou bondoso e tenho um coração humilde. E vocês encontram consolo” (Mateus 11.29s).
Nem todos tem histórias iguais a de Frida. Mas, certamente, lembranças vem à nossa memória, quando vasculhamos no baú da nossa história. Não sejamos reféns de nossa história. Lutemos por reconciliação com o próprio passado.
Pastor Teobaldo Witter- Cuiabá, MT. E.mail: twitter@terra.com.br